18 setembro 2010

Tradicionalistas improvisam versos em São Miguel das Missões

Ser desafiado em versos num palco, ao som de gaita, rimando palavras que surgem de improviso não é fácil. Mas para um grupo de 20 gaudérios que participam neste sábado de um festival de trovas em São Miguel das Missões a tarefa é moleza.
Durante todo o dia, ocorre no município o 1o Eco do Sino Missioneiro da Trova, no CTN Sinos de São Miguel. Os vencedores serão conhecidos no final da noite. A trova é feita em duplas. Os concorrentes e o tema são sorteados na hora. Um desafia o outro nos versos. O trovador, além de pensar o que vai cantar de improviso, tem que prestar atenção no que o desafiante entoa.
Os temas são os mais diversos. O primeiro deles sorteado já mostrou o quanto tem que ser criativo para entrar para o mundo da trova. A primeira dupla, Adão Bernades e Hidalgo Rodrigues, se desdobraram para cantar sobre o tópico 'Eu Calço o Pé na Macega'.
Como tudo é criado na hora, falhas e esquecimentos são parte da rotina dos trovadores. Morador de Passo Fundo, Luiz Carlos Araújo, 59 anos, por exemplo, foi finalizar um verso para homenagear São Miguel, mas na hora acabou saindo São Gabriel. Apesar do estranhamento dos miguelinos da plateia, o jeito foi seguir em frente. Parar para corrigir seria pior.
—Igual é santo também— brincou Araújo mais tarde, fora do palco.
Eles concorrerem a prêmios em três modalidades de trova: a campeira, a de Estilo Gildo de Freitas e a de Martelo.
O tradicionalista Valter Portalete, que é um dos jurados, explica a diferença entre as modalidades. Conheça cada uma delas:
A trova campeira tem versos de seis linhas. O declamador canta num tom mais lento, é quase um chote. Tem que haver rima na segunda, quarta e sexta linhas.
Já a de estilo Gildo de Freitas segue o ritmo da composição Definição do Grito, do próprio Gildo de Freitas ('Uma vez num outro estado me pediram a informação/Por que é que no Rio Grande todo gaúcho é gritão'). O estilo surgiu por acaso, quando o cantor Valdomiro Mello interpretava a música, acabou esquecendo a letra e teve que improvisar. Os versos têm nove linhas.
Já a trova de martelo é considerada a mais difícil de todas. Não há intervalo de gaita. Há uma costura de linhas entre os trovadores. Por exemplo, um deles improvisa cinco linhas e o outro faz a sexta.
A pedido de Zero Hora, Peá da Bossoroca, morador de Sapucaia do Sul, e Ildomar Martins, morador de Santa Maria, cantaram em trova campeira diante das Ruínas de São Miguel, patrimônio da Humanidade.

Desfile Farroupilha encanta público em Três de Maio

O Desfile Farroupilha em Três de Maio foi realizado neste sábado com a participação de centenas de crianças. Em cima de caminhões, nos automóveis e até montadas a cavalo, os baixinhos deram um colorido especial a um dos principais eventos da Semana Farroupilha. Um grupo de 100 crianças de São José do Inhacorá participou, pela primeira vez, do desfile em Três de Maio.

O desfile começou por volta de 9h30min. Um grande público compareceu ao longo das Avenidas Uruguai e Santa Rosa para assistir ao CTG e entidades parceiras.

Um grupo encenou os revolucionários farroupilhas sendo presos e maltratados pelo soldados do Império.

Máquina escavadora chega ao local onde estão os mineiros soterrados do Chile

No final da manhã desta sexta-feira a máquina de escavação T-130 conseguiu chegar até o local onde estão os 33 trabalhadores soterrados há 42 dias no Norte do Chile. Eles devem ser resgatados no começo de novembro, segundo as autoridades chilenas. A ideia é fazer uma abertura para a partir daí colocar uma espécie de túnel por onde serão resgatadas as vítimas. As informações são da rede estatal de televisão do Chile, a TVN.
Mais de 420 metros foram escavados. Os mineiros estão a 700 metros de profundidade. Os técnicos trabalham para que as escavações não provoquem novos desabamentos. Na quarta-feira foi concluída a construção de uma plataforma capaz de sustentar mais uma máquina máquina no trabalho de escavação.
Ontem à noite foi acionada a sonda de perfuração geotérmica RIG 421, utilizada em atividades petrolíferas. A máquina tem 45 metros de altura e é considerada mais rápida do que as outras duas em funcionamento.
Desde o dia 5 de agosto, quando houve o acidente, foram definidos três planos denominados A, B e C. Em cada um deles, uma máquina trabalha para chegar ao local onde estão os 33 mineiros. As operações de resgate dos mineiros são acompanhadas de perto por vários parentes. As famílias montaram barracas e transformaram o local em uma pequena vila que foi batizada de Acampamento Esperança.

Alunos de uma escola de Cruz Alta aprendem a preparar charque

O açougueiro Rafael de Paula Silva, 27 anos, saiu de sua rotina ontem.
Acostumado a atender o público em um supermercado do bairro Vila Nova, em Cruz Alta, no Noroeste, ele visitou a Escola Estadual de Ensino Fundamental Pacífico Dias da Fonseca para ensinar alunos de 1º ano a 8o anos do Ensino Fundamentl a fazer charque. Animados, eles esperavam no pátio da escola.
Ao lado do fogo de chão, panelas e chaleiras incrementavam o cenário. De roupa branca, avental e luvas, Silva pegou as duas peças de carne bovina sem osso, cuidadosamente separadas, e começou a explicação. A forma correta de cortar a carne, o jeito certo de salgar.
Segundo ele, o ideal é que a carne tenha um pouco de gordura, pois, se for muito seca, ficará dura, já que o charque é um processo de desidratação. A carne é aberta, formando a chamada manta. Após, é a hora de salgar dos dois lados.
— Tem que ser com sal fino, que é mais iodado — ressalta o açougueiro.
Por dois dias, o charque ficará descansando. Após, quando a carne já tiver perdido água, volta-se a salgá-la. Mais uma vez a carne descansa por dois dias, sendo salgada novamente. Somente no sexto dia a carne é colocada para secar no vento e no sol, em um ambiente sem odor. Mais três dias e está pronto o charque.
Abnner Marques de Oliveira, 10 anos, natural de Roraima, aprovou a iniciativa. Com a receita decorada, ele disse que vai ensinar para o pai o que aprendeu. Já Tainan de Morais, 15 anos, tinha na ponta da língua a resposta sobre a importância do charque para a economia do Estado no século 18.
— Como não tinha refrigeração, tinham que salgar e secar a carne para ela durar mais tempo — explica.

Crianças aprendem cultura gaúcha em Erechim

Não faltam comida campeira e shows nativistas no Acampamento Farroupilha de Erechim, que acontece até o dia 20. Mas é durante o dia que a cultura gaúcha parece encantar mais os visitantes. Mesmo sem nunca ter vestido uma pilcha, crianças de todas as idades transformam a cultura gaúcha em diversão. Os galpões do acampamento se transformam em oficinas para repassar às novas gerações um pouco do sentido de ser gaúcho.
Num dos galpões, a gurizada aprende a fazer um carreteiro e até ganha uma provinha no lanche da tarde. Em outro, aprendem sobre a origem das vestimentas do gaúcho. Em outro ainda é o galpão com seu fogo de chão, o personagem principal. A hora do conto ganha um contador de causo pra lá de divertido, que rima as lendas gaúchas ao som de gaita e violão e coloca a criançada a fazer carreira com cavalinho de pau.
Encilhar um cavalo e derrubar o boi com tiro de laço parece coisa de profissional, mas no acampamento farroupilha de Erechim está entre as brincadeiras mais disputadas. Afinal, laçar a vaca pela primeira vez é um desafio mesmo que esteja parada e seja de madeira.
Num galpão coberto com palha, a história e a economia do começo do século ficam mais fáceis de compreender. Réplicas de mulas de carga mostram como era feito o transporte de produtos na época.
A pesquisa feita pelos tradicionalistas Valdemar Bassaneze e Dejani Fátima Topolski, com base em tropeiros entrevistados conta como os animais viajavam por mais de 10h levando milho, feijão, trigo, banha, mel e cachaça, desde os municípios menores até Erechim, e dali retornavam carregando sal, tecidos e querosene.
A égua madrinheira, que puxava a tropa cargueira foi feita em madeira reforçada para aguentar o repuxo da criançada, que não deixa o galpão sem montar ao menos uma vez. E uma maquete com movimento feita neste ano garantiu atenção total dos alunos à explicação dos tradicionalistas. É como um "autorama gaudério", em que as mulas feitas em madeira passeiam pelas casinhas representando cada município da região.