Como num milagre, a chuva que abençoou durante toda a madrugada de ontem o Noroeste do Estado fez o pasto amarelado esverdear, rios ressuscitarem do pó, sorrisos brotarem em rostos cabisbaixos. Embora os prejuízos com a lavoura de verão sejam considerados irreversíveis, com perdas calculadas em R$ 160 milhões entre os 21 municípios da chamada Região Celeiro, a chegada da água recobrou a confiança.
Extasiado ao ver o rio que corta sua propriedade renascer sobre a terra onde até quarta-feira só corria um filete de cinco centímetros, o agricultor Osvaldo Pietczaki, 54 anos, do interior de Redentora, acelerou o trato das vacas pela manhã para permitir-se uma extravagância. Por instantes, trocaria a pá e a enxada pela linha de pesca. Menos de cinco minutos depois de jogar a linha no rio, apareceu o primeiro jundiá. Como tinha menos de 20 centímetros, Osvaldo o devolveu à água. Para ele, bastava a alegria de ver a vida renascendo.
– Essa água dá coragem pra gente voltar pro serviço – celebrou.
A 50 quilômetros dali, em Bom Progresso, Jardel da Rosa Milbaier, 10 anos, festejava a possibilidade de retomar os estudos. Desde segunda-feira, estava sem aulas por causa da seca, devido a um protesto das prefeituras da região. Seu pai, Nelci Garcia da Rosa, 42 anos, com quem recolhia mudas para plantar na manhã de ontem, mal dormiu de tão feliz com a chuva. Apesar da felicidade provisória, líderes da região insistem que a mobilização precisa continuar.
– Precisamos manter o alerta para buscar soluções mais permanentes para enfrentar novas catástrofes – diz a secretária-executiva da Associação dos Municípios da Região Celeiro, Fátima Fink.