14 julho 2009

Hospital Comunitário de Sarandi inicia programa contra o crack

Assustados com o aumento no número de dependentes químicos em busca de ajuda, um grupo de funcionários do Hospital Comunitário de Sarandi, no norte gaúcho, lançou em um projeto de desintoxicação de usuários de drogas. Recuperou uma ala que não estava sendo usada e reservou 10 leitos para o tratamento de dependentes químicos. Desde fevereiro, quando o programa começou, a ala reservada já atendeu 58 pacientes.
Davi Hoff, 28 anos, passou pelo processo de recuperação do hospital. Usuário de drogas desde os 12 anos, ele procurou ajuda depois que a mulher decidiu sair de casa levando a filha do casal, de oito anos. Durante duas semanas, ele passou por um processo de desintoxicação e, agora, quatro meses depois, começa uma nova vida.
– Já perdi cinco amigos para as drogas. Uns foram mortos por causa de dívidas, outros se envolveram na bandidagem e um deles teve uma overdose. Quando vi isso acontecendo ao meu lado e vi minha família se despedaçar, resolvi dar um basta – conta Hoff.
Hoje, o jovem frequenta uma igreja e trabalha. Recuperado, ele visita a unidade com frequência e conversa com os jovens internados, que assim como ele, precisam de apoio. Além de Hoff que atua como voluntário, a unidade conta com médicos, enfermeiros, psicóloga e técnicos de enfermagem. Durante 24 horas, os 10 pacientes são acompanhados pela equipe. Um deles, C.G, 33 anos, é usuário de crack há dois anos. Foi internado pela família e conta que já perdeu tudo por causa do vício.
– Já foi casa, carro, roupas e tudo que eu tinha de valor. Tenho que me livrar disso, mas não é fácil – desabafa.
Hospital quer continuar com trabalho após a internação
De acordo com a psicóloga Christiane Antunes Bastos, que acompanha os pacientes, além da desintoxicação, eles participam de atividades como oficinas de arte e preparo de hortas. A última etapa do tratamento envolverá o acompanhamento dos pacientes depois do fim do processo de desintoxicação, trabalho que deve iniciar nas próximas semanas.
– A gente ainda não sabe se o jovem que saiu daqui largou as drogas. Ele pode muito bem estar consciente em relação ao mal que a droga causa e chegar no meio em que vive e voltar para ela – preocupa-se Christiane.
O hospital pretende acompanhar de perto a eficiência do tratamento indo até a casa dos pacientes que receberam alta. Segundo o diretor do hospital, Luiz Valdemar Albrecht, essa é uma etapa de fundamental importância que ainda deveria receber mais atenção do Estado.
– A gente trabalha o problema, mas e depois? O que estes jovens fazem? Ficam muito suscetíveis. Falta preencher esta lacuna que é o pós-desintoxicação – ressalta Albrecht.
Por enquanto, a internação na ala de dependentes químicos do hospital só ocorre a partir de um contato do usuário ou da família com a 15ª Coordenadoria Regional de Saúde, que inclui o município de Sarandi e tem sede em Palmeira das Missões.Para os próximos meses, há expectativa de que novos leitos sejam ofertados na instituição de saúde.