26 julho 2009

Viver no Paraguai é como voltar ao Brasil dos anos 1970, diz imigrante

A vida tranquila e, acima de tudo, segura foi o principal atrativo para que o paulista Miguel Pavani, dono de uma oficina mecânica, se mudasse para Concepción, no Paraguai, cinco anos atrás. Na chegada, gostou do clima, gostou do povo, encontrou a vida calma que procurava. Além do lado bom, entretanto, deu de cara também com um sistema de corrupção institucionalizado muito mais intenso que o do Brasil atual, e com um certo atraso econômico e político. “A verdade é que o Paraguai é o Brasil dos anos 70. Em tudo nós percebemos isso, seja na economia, nas cidades, no campo. É diferente”, disse, em entrevista ao G1.
A descrição dele é de um lugar que oferece uma boa vida, pacífica, agradável, sem muito estresse, mas permeada de problemas causados por uma forte cultura de querer tirar vantagem em tudo. “A corrupção aqui é mais forte, instituída, espalhada por toda a sociedade”, diz, para logo em seguida defender o país em que escolheu viver e onde já se sente em casa. “É um lugar bom para morar, as pessoas são simpáticas, um povo muito bom. A vontade de levar vantagem é cultural, e pode chocar num primeiro contato. Cobra-se propina por qualquer coisa.”
O país vizinho é o segundo que mais atrai brasileiros imigrantes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Desde a época dos chamados “brasiguaios”, que buscavam riqueza na agricultura da região da fronteira com o Brasil, até atualmente, são quase 500 mil brasileiros, de diferentes perfis e com diferentes interesses. Segundo Pavani, o choque cultural pode ser maior para quem acaba de chegar, e é uma forma de os paraguaios evitarem que o país seja usado por pessoas que vêm “fugindo” do Brasil por questões legais, ou que buscam apenas explorar o país economicamente. “Para quem vem construir a vida, como nós, é mais fácil”, disse.
Pavani explica que existe um certo preconceito contra esses brasileiros que querem apenas explorar as oportunidades econômicas do país, em vez de buscarem construir uma vida. O brasileiro, diz, se torna de certa forma um vilão, o alvo dos protestos contra os problemas locais. “Existe um pessoal que está no Paraguai há muitos anos, que mexe com soja, vive numa região dominada pelos brasileiros”, diz, justificando a irritação sentida pelos locais.