A vida insiste em emergir dos escombros de Porto Príncipe. A resistência de vítimas soterradas sem água ou comida e o esforço das equipes de resgate para chegar a elas resultaram, até ontem, em sucessivas vitórias contra a desesperança.
Um dos símbolos da luta pela sobrevivência foi erguido dos entulhos na noite de quinta-feira. O pequeno Redjeson Hausteen Claude, dois anos, foi encontrado envolto aos destroços que restaram da casa onde vivia com os pais. Resistiu sozinho a mais de 48 horas de dor e medo. Redjeson, localizado por um grupo de socorristas espanhóis e belgas, acabou fotografado no momento em que o especialista em resgate de montanhas e mergulhador espanhol Félix del Amo o retirava dos escombros. O herói contou com a ajuda do compatriota Óscar Vega Carrera, bombeiro, para conseguir salvar a criança.
Retirado do amontoado de restos de construção, o pequeno haitiano mantinha o olhar atemorizado e perplexo. A apreensão se desfez em um largo sorriso quando avistou a mãe, Daphnee Plaisin, e o pai, Reginald Claude. O impacto da emoção de encontrar o filho com vida pareceu paralisar Daphnee que, incrédula e estática, recebeu-o de volta em seus braços dois dias depois do tremor arrasar a cidade.
A família que suportou a fúria do terremoto e se reencontrou se transformou em símbolo do esforço despendido por socorristas dos mais variados cantos do planeta para desafiar as probabilidades e retirar sobreviventes de montes de pedra, cimento e tijolos. Uma delas foi uma enfermeira soterrada durante três dias e resgatada na sexta-feira por militares brasileiros.
Sua localização, flagrada por uma equipe da Rede Globo e exibida no Jornal Nacional, feita por um integrante da força de paz da ONU que conseguiu alcançar a mão da vítima por uma brecha ínfima entre os destroços. Em seguida, à medida que as pedras maiores eram retiradas, podia-se ver parte de seu rosto. O resto do corpo estava imobilizado e coberto de entulho.
– Ela está viva, ela está bem – comemorou o militar.