Aclamada hoje como pré-candidata do PT à Presidência, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pregou o fortalecimento do Estado, mas fez questão de destacar que a preservação da estabilidade macroeconômica, com manutenção do equilíbrio fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante, serão a base das ações de seu governo.
— Não haverá retrocesso nem aventuras — afirmou Dilma no 4º Congresso Nacional do PT, em Brasília, que aprovou as diretrizes de seu programa de governo.
— Como todos podem ver, temos um extraordinário alicerce sobre o qual construir o terceiro governo democrático e popular. Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula.
Em meio a promessas de continuar os investimentos sociais iniciados no governo Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra encontrou espaço para críticas à oposição. E foi com elas que arrancou os primeiros aplausos entusiasmados.
— Não praticamos casuísmos. Basta ver a reação firme e categórica do presidente ao frustrar as tentativas de mudar a Constituição para que pudesse disputar um terceiro mandato. Não mudamos, como se fez no passado, as regras do jogo no meio da partida.
O discurso de Dilma, lido em dois teleprompters — painéis onde o texto do discurso era passado —, demorou para empolgar os petistas. Com menos espontaneidade que Lula, a ministra se revelou um tanto dura ao falar e seguiu praticamente à risca o discurso escrito dias antes.
— Quem duvidar do vigor da democracia em nosso país, que leia, escute ou veja o que dizem livremente as vozes oposicionistas. Mas isso não nos perturba. Preferimos as vozes dessas oposições, ainda quando mentirosas, injustas e caluniosas, ao silêncio das ditaduras —, insistiu.
Em um texto que começou com tom que deveria soar emocionado, citando os poetas Carlos Drummond de Andrade, mineiro, e Mário Quintana, gaúcho, e relembrando seu passado, ela afirmou que nunca esperou ser candidata.
— Jamais pensei que a vida viesse a me reservar tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo, com humildade, serenidade e confiança.
Depois de elogiar e relembrar os principais programas do governo Lula, Dilma começou a enumerar suas metas. Garantiu que tudo será feito para manter a estabilidade econômica — uma cobrança que começou a aparecer depois que as primeiras diretrizes de seu provável programa de governo mostraram uma tendência mais à esquerda.
No entanto, enfatizou a determinação de "continuar valorizando o servidor público" e "reconstituindo o Estado" e rebateu as críticas de que o governo petista inchou a máquina pública.
Boa parte das promessas se concentrou na área social, especialmente educação e saúde, juventude e infância.
— As crianças e os mais jovens devem ser, sim, protegidos pelo Estado, desde a infância até a vida adulta.
Até mesmo o Meio Ambiente, tema com o qual não tinha muita intimidade até a entrada da ex-ministra Marina Silva na campanha, mereceu referência. Em todo o discurso, as promessas de Dilma partiram do que foi feito por Lula e como ela poderá avançar, a partir daí. Educação, pré-sal, ampliação do programa Bolsa Família, Luz para Todos foram o centro das promessas da pré-candidata.
Ao abrir seu discurso, o presidente Lula colou em Dilma a imagem de vítima do preconceito, primeiro por ser mulher e, segundo, por ter lutado contra o regime militar. "Essa menina, com 20 anos de idade, resolveu por opção própria colocar sua vida em risco, para garantir a democracia neste País", declarou.
— Até porque houve um tempo neste país em que os presos eram os honestos.