Parte da sede da JH Sementes, o gigantesco e refrigerado galpão de armazenagem localizado em Correntina, oeste da Bahia, em nada lembra o alpendre de tábuas da propriedade humilde que os irmãos Harald e John Kudiess deixaram para trás, em Chiapeta, nos anos 80. Ambos migraram do Rio Grande do Sul, sob o olhar temeroso do pai, com poucos pertences na carroceria de um caminhão Mercedes-Benz 1513. Duas décadas mais tarde, encabeçam um dos maiores grupos produtores de sementes de soja do país.
A dupla faz parte de uma leva de gaúchos que, sem vislumbrar alternativas de crescimento no Estado natal, rumou em busca de terras baratas no Nordeste. Destes, muitos quebraram devido à falta de experiência em uma região topograficamente distinta à gaúcha. No entanto, os Kudiess, venceram. A persistência, a dedicação e a estratégia fizeram com que o grupo hoje produza 1,5 milhão de sacas de 40 quilos de semente na safra 2009/2010.
- Nos consideramos as ovelhas desgarradas que deram certo. Na época que viemos, 90% dos gaúchos que saíam do Estado apostavam em Mato Grosso. Falamos com produtores daqui e, em princípio, a terra barata foi o principal atrativo - fala Harald, hoje com 50 anos.
De uma família de cinco irmãos, Harald e John, descendentes de alemães, chegaram em solo baiano e enfrentaram uma série de dificuldades típicas de natos desbravadores, como fazem questão de frisar.
- O solo aqui é muito diferente do gaúcho, 80% de areia e 20% de argila. Precisa de muito mais adubo. Só conseguimos vencer porque respiramos agricultura e trabalhamos com recursos próprios, priorizando a qualidade das sementes - explica John.
Depois de trabalhar de sol a sol para garantir a engrenagem perfeita da JH Sementes, hoje a dupla conta com a ajuda dos filhos no negócio. Os homens imperam - Harald tem três meninos e John, dois. Todos nasceram no Rio Grande do Sul, mas, apesar de cultivarem tradições como a cevadura do chimarrão todas as manhãs, ninguém pensa em voltar:
- Hoje, nossos pais ainda moram lá, mas passam parte do ano aqui conosco, o que faz com que eu, particularmente, não vá ao Estado já há três anos. Sentimos falta da cultura gaúcha, da música, do mate, dos amigos. Mas conseguimos contornar isso por aqui. A Bahia nos ofereceu muitas oportunidades e foi o Estado que proporcionou nosso trabalho. Do Rio Grande fica a saudade - destaca Harald.
Trabalho que tem como base a qualidade e a tecnologia de ponta. Como o tempo de plantio e de colheita para fabricação de sementes é praticamente igual ao de uma plantação da soja em si, explicam os agricultores, o que difere é a separação e o beneficiamento.
No início do mês de março, importaram 20 colheitadeiras New Holland CR9060, top da marca, com sistema exclusivo de trilha e separação do grão. Como cada uma custou cerca de R$ 700 mil, o investimento foi próximo a R$ 14 milhões. Um dos motivos levados em consideração na hora da escolha da máquina foi a baixa emissão de poluentes na atmosfera que apresenta.
- Pensamos muito na parte ambiental, essa colheitadeira tem baixa emissão de enxofre - afirma Harald.
Atentos às necessidades do mercado, John revela que neste período do ano a empresa já está pensando que tipo de semente o produtor vai precisar na próxima safra.