Enquanto industriais relatavam que caminhões brasileiros estavam parados na fronteira com a Argentina, por força das restrições à importação de alimentos industrializados, o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Enio Cordeiro, reunia-se com Alfredo Chiaradia, secretário de Relações Econômicas da chancelaria argentina, para cobrar uma posição oficial. Do Brasil, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, admitia que o país poderá retaliar comercialmente a Argentina, caso o vizinho coloque em prática a proibição.
– O embaixador brasileiro está tendo várias reuniões para evitar que (a proibição) aconteça. Temos um fluxo importante de alimentos – disse Jorge, acrescentando que o governo não foi notificado oficialmente.
Ontem, jornais argentinos publicaram declarações de fontes da Anmat, espécie de Anvisa argentina, admitindo que desde 23 de abril as listas de autorizações enviadas à Secretaria de Comércio Interior têm retornado com cortes. O titular da secretaria é Guillermo Moreno, que teria determinado verbalmente as restrições a proprietários de supermercados.
Conforme Ricardo Martins, diretor de comércio exterior e relação internacionais da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), quatro empresas já relataram problemas à entidade.
– Há quatro, cinco caminhões parados na fronteira, todos de alimentos, que nunca enfrentaram esse tipo de problema, nem durante o período das licenças não automáticas. Um deles é um caminhão de congelados, mas industrializados, material não perecível – relatou Martins, evitando identificar as empresas prejudicadas.
Na embaixada brasileira em Buenos Aires, a perspectiva é de “solução a curto prazo para o problema”. Para os industriais, é importante agir em todas as frentes, tanto cobrando uma posição do governo brasileiro quanto tentando desembaraçar cargas retidas e embarques suspensos por conta da situação.
– O casal Kirchner é assim, primeiro bate e depois senta para conversar. Se formos analisar, a corrente de comércio nos favorece, mesmo com tudo o que eles fazem. O bom comerciante sabe que tem de ouvir besteiras de seus clientes. Nesse sentido, o governo brasileiro tem agido da forma correta, mas com o passar do tempo esse comportamento pode acabar levando a uma situação de profundo desgaste. Aí talvez se perca a paciência com isso – avalia Martins.