Em visita ao país para acertar com os moinhos brasileiros uma classificação comum para o trigo, a Associação Argentina dos Produtores de Trigo (AAProtrigo) prevê que a próxima colheita do cereal na Argentina deve alcançar de 9 milhões a 10 milhões de toneladas. O número é maior do que o registrado no ano passado, quando a Argentina teve forte quebra de safra por causa do clima e produziu apenas 7 milhões de toneladas.
No entanto, é menor do que as cerca de 12 milhões de toneladas esperadas pelo mercado. "Ainda assim, essa previsão está sob dúvida. Pode ser ainda menor", disse Mariano Otamendi, membro da AAprotrigo.
Ele citou como razões a instável política do governo argentino, que prevê retenção de exportações e taxa em 28% a produção nacional do cereal, o que vem desestimulando o plantio.
Com um consumo interno de 5 milhões de toneladas, a Argentina terá, portanto, outras 4 milhões a 5 milhões de toneladas de excedente exportável, caso se confirme o cenário de produção de até 10 milhões de toneladas. A situação deve fazer com que os moinhos brasileiros voltem a comprar cerca de 1 milhão de toneladas de fora do Mercosul.
A despeito da previsão de produção abaixo do esperado na Argentina, os agricultores do país vizinho estiveram reunidos na sede da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) para assinar um acordo pelo meio do qual se busca, no médio prazo, sintonizar as características do trigo argentino às necessidades dos moinhos no Brasil.
"Apresentamos um documento no qual constam as especificações técnicas do trigo que a indústria brasileira precisa consumir. E os produtores que fornecerem esse tipo de cereal será melhor remunerado", afirmou o embaixador Sérgio Amaral, presidente da Abitrigo.
Otamendi, da AAProtrigo, disse que o principal desafio de toda a cadeia do trigo na Argentina será o de segregar o trigo produzido no país. "Produzimos vários tipos de trigo, mas ao longo da cadeia, eles são misturados", explicou.
Assim, segundo Amaral, a parceria vem ao encontro da percepção do setor de que o mercado consumidor está buscando mais variedade e qualidade nos produtos finais do trigo, que vão de massas, a biscoitos e pães.
O presidente da Abitrigo disse que a parceria com os produtores argentinos também é uma sinalização aos triticultores brasileiros sobre que tipo de trigo a indústria precisa. "Também é um sinal ao governo de que é preciso estimular qualidade do trigo e não quantidade", afirmou Amaral, em alusão às políticas de subsídio do governo federal.