03 julho 2010

Depois das enchentes em Alagoas, sujeira ameaça a saúde da população de Murici

A sujeira provocada pela enchente que destruiu grande parte do município alagoano de Murici há duas semana fez com que o número de atendimentos no único hospital da cidade mais que dobrasse nos últimos dez dias. Esse aumento está diretamente ligado à suspeita de casos de leptospirose, doenças respiratórias e de pele. 
Segundo o diretor-geral do Hospital Dagoberto Uchôa de Almeida, Francisco de Assis Barbosa, entre o dia 18, quando ocorreu a primeira enxurrada, e a última quarta-feira foram atendidas 1.593 pessoas. Mais da metade da média mensal de atendimentos, que é de 2,6 mil. 
— A tendência é que esse número cresça ainda mais com o passar dos dias com a falta de água potável e de higiene nos abrigos improvisados para atender a população — alertou Barbosa. 
De acordo com ele, o número de exames laboratoriais também saltou depois da catástrofe. Em 10 dias foram feitos 2.245 exames, enquanto a média mensal não passa de 2,5 mil. 
Com a filha de três meses no colo, a dona de casa Vera Maria Veronilde foi uma das que procuraram hoje o hospital de Murici: 
— Ela está bem gripada. Com certeza é por causa da poeira e da sujeira. 
Além do hospital, Murici, que fica a 50 quilômetros de Maceió, conta também com uma unidade de saúde do Exército. Instalada na cidade desde o último dia 30, atende, em média, 200 pessoas por dia.
— São consultas, curativos e aferição da pressão e de glicose — disse o tenente Hilton Medeiros, um dos coordenadores do posto que fica no centro do município, ao lado do hospital. 
Para o militar, a preocupação com a leptospirose ainda vai se estender por mais de um mês. 
— O problema é que a leptospirose pode aparecer em um período de até 40 dias — explicou. 
Outra preocupação após a enchente é com a presença de animais peçonhentos, como cobras e escorpiões. Hoje, em uma das ruas que foi arrasada pelas chuvas, um grupo de amigos se assustou com a presença de uma cobra. 
— Das grandes, atravessou a rua e me assustei. Se ela pega alguém, já era — disse o desempregado José Cícero Ferreira. 
Com população de aproximadamente 26 mil pessoas, Murici teve mais de 9 mil moradores atingidos pelas enchentes. 
Até o momento, as chuvas no Nordeste provocaram 57 mortos, mais de 50 mil desabrigados e cerca de 100 mil desalojados. 
Em Alagoas, quatro municípios decretaram situação de emergência e 15, estado de calamidade pública. Em Pernambuco, 27 estão em situação de emergência e 12 em estado de calamidade pública.