30 julho 2010

Produtores matêm contas sob controle em busca de melhor renda

Contabilidade, administração, planejamento, gestão e eficiência. Enganou-se quem achava que essas eram palavras típicas das empresas da cidade grande. Com a rentabilidade prejudicada pelas constantes quedas nas margens de lucro, aumento no custo dos insumos e a incerteza no valor das commodities, a saída para os produtores rurais é o planejamento cuidadoso de todas as etapas do negócio. A gestão eficiente das contas e dos investimentos é tão importante como as ferramentas tecnológicas que garantem produção farta e qualidade.
Importante, mas nunca simples. O pesquisador em socioeconomia da Embrapa Soja, Joelcio Lazzarotto, afirma que a gestão do agronegócio é um dos principais gargalos do segmento. Segundo ele, ainda é difícil para o administrador rural saber exatamente quanto custa e por quanto deve vender seu produto. Há falta de planejamento na relação entre custos e receitas.
– Propriedade rural eficiente não tem somente produção, mas também alto rendimento, que se obtém com excelência técnica aliada a um desempenho financeiro positivo – destaca Lazzarotto.
Neste ano, um grupo de produtores de arroz do Estado deixou de vender a produção por R$ 33 a saca, por acreditar em preços melhores. Os preços não vieram e eles terão de aceitar R$ 26 para não perder o trabalho. Casos como esse são, enumera o diretor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Valmir Menezes, exemplos típicos de problemas na gestão e no planejamento da safra. Sem metas a cumprir e com o total de custos indefinido, fica impossível planejar uma venda rentável. Menezes comenta que a gestão começa com os custos e vai até a comercialização.
Na Estância Warlene, as estratégias fazem parte do trabalho diário. Ângelo Dovigi Filho, 33 anos, planta há quatro e alia os conhecimentos adquiridos com o pai, arrozeiro há mais de cinco décadas, com os ensinamentos obtidos na faculdade de agronomia e na pós-graduação em administração rural.
Enquanto muitos produtores deixam para preparar o solo pouco antes de semear, Dovigi iniciou os trabalhos com a terra em abril. Cerca de 60% dos 580 hectares já estão preparados para a próxima semeadura. Todo o esforço é para estar com a área pronta em setembro, considerada melhor época para o plantio, e ter os gastos sob controle.
– Plantar cedo é um dos principais artifícios para se obter boa produtividade – destaca o arrozeiro, que neste ano colheu 7,2 toneladas por hectare.
Gerir o negócio de forma planejada e profissional não é um luxo para poucos. Para Angelo Aguinaga, técnico da gerência de agronegócio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul, uma das alternativas para os agricultores familiares pode estar nos associativismo. Compras cooperativadas de insumos, estratégias coletivas de venda e compartilhamento das ferramentas de gestão e capacitação oferecem às pequenas propriedades uma eficiência que não teriam se estivessem isoladas.
– O cooperativismo, tão praticado no Rio Grande do Sul, precisa se espalhar como cultura para todo o país – ensina o diretor da Associação Brasileira de Agribusiness, Luiz Antônio Pinazza, lembrando que não é necessário ter uma gestão sofisticada, com softwares ultramodernos, para calcular os números da pequena propriedade.