22 agosto 2010

Mudança climática exige preparo no campo

Apesar de correntes controversas defenderem o aquecimento e o esfriamento da temperatura nas próximas décadas, o produtor precisa estar atento e preparado para produzir em qualquer das circunstâncias. Até o momento, não é possível mensurar o quanto as mudanças climáticas afetaram a agricultura no Estado, mas já há estudos que projetam como será possível fazer frente às adversidades climáticas que estão por vir. "A tendência é que tenhamos efeitos mais frequentes como muita chuva, seca e frio", afirma o pesquisador de mudanças climáticas da Embrapa Trigo Anderson Santi.
Embora o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) da ONU aponte para tendência de aumento na temperatura global, Santi acredita que as alterações já estejam em curso. E que, caso se comprovem, possam provocar incremento de chuvas e da umidade na região de Passo Fundo. O cenário poderá prejudicar lavouras de trigo, por exemplo, por criar um ambiente ideal para a ocorrência de doenças fúngicas. "As culturas atuais não estão preparadas para mudanças bruscas do ambiente", explica, ao defender que o melhoramento genético será a alternativa para superar o novo quadro. Ele afirma, ainda, que a solução passa pela adaptação das variedades e pela alteração de zoneamento com foco nas consequências do aumento da temperatura.
Ele alerta que o manejo adequado do solo terá um papel importante. "Com mais calor aumenta a evaporação. Se o solo não for um reservatório de chuva, e se o produtor não favorecer que a água fique na lavoura, vai sentir dificuldades", ressalta. Santi afirma que os produtores devem ficar atentos ao adensamento do solo, que impede que a água chegue à raiz e que ela seja mais profunda, dificultando o acesso ao nutriente.
As mudanças no clima, contudo, não necessariamente podem ser ruins para a agricultura. Pelo menos, é o que indica uma simulação de pesquisadores que aponta possibilidade de aumento da temperatura mínima em Pelotas nos próximos anos. Caso esse cenário se estabeleça, a incidência de dias frios tenderia a diminuir e, com isso, seriam menores os problemas causados na lavoura de arroz, especialmente no período de pré-floração e floração. "É o lado positivo da mudança", afirma o pesquisador em agrometeorologia e coordenador da área na Embrapa Clima Temperado, Silvio Steinmetz.
Segundo o estudo, apesar de o número de dias frios tender a cair, eles ainda ocorreriam e poderiam até ser mais intensos. "A frequência de dias frios pode diminuir em dezembro, janeiro e fevereiro, mas as temperaturas baixas continuariam acontecendo e, em alguns casos, com mais força. Até porque, a característica das mudanças climáticas é de extremos."