O presidente do Equador, Rafael Correa, foi recebido na noite desta quinta-feira como um herói na Praça Maior de Quito, onde era aguardado por milhares de partidários após ser resgatado de um hospital cercado por policiais rebelados. Do balcão do Palácio de Carondelet, Correa pronunciou um emocionado discurso no qual confessou ser este "um dos dias mais tristes" de sua vida, e "sem dúvida o mais triste" de quase quatro anos de governo.
- Por um grupo de delinquentes, pela infâmia dos conspiradores de sempre, maltrataram, sequestraram o presidente, e para libertá-lo caíram irmãos equatorianos - disse o presidente durante o discurso.
Correa, que havia anunciado a morte de um policial na operação militar para resgatá-lo, retificou a informação e disse que há apenas cinco feridos entre os efetivos leais ao governo.
- Acabam de me dar a notícia grave, mas menos grave, que há cinco feridos em nosso GEO (Grupo Especial de Operações do Exército), mas que ninguém morreu. Oxalá seja assim, e que se recuperem o mais rápido possível. Hoje, um presidente não claudicou como fizeram outros covardes - disse Correa sobre seus predecessores derrubados na última década.
- Lucio assassino - respondeu a multidão reunida na praça, em alusão ao ex-presidente Lucio Gutiérrez, um golpista depois eleito presidente e derrubado do poder em 2005.
Quando estava cercado no hospital, Correa acusou diretamente grupos ligados ao ex-presidente Lucio Gutiérrez pela "tentativa de golpe de Estado".
- Isto é uma conspiração muito profunda de infiltrados gutierristas - disse Correa.
Gutiérrez, que está no Brasil, negou qualquer envolvimento com a rebelião policial: "minhas primeiras palavras são para rejeitar as covardes, falsas e temerárias acusações do presidente Correa".
- No Equador, temos um governo abusivo, corrupto, totalitário, um governo que não respeita os direitos. O culpado desta crise é o próprio presidente - declarou o ex-presidente.
Correa, cercado no hospital por policiais rebelados, foi resgatado em meio a um intenso tiroteio entre os rebeldes e militares leais ao governo.
A rebelião foi deflagrada nesta quinta-feira, após a aprovação da lei que reduzia benefícios salariais de policiais e militares.
Correa estava no hospital após ser agredido pela manhã, quando foi a um quartel falar com os policiais que protestavam contra o corte de benefícios. Antes de seu resgate, policiais rebelados e partidários do governo se enfrentaram na zona do hospital, em um confronto que deixou cerca de 50 feridos.
Os partidários de Correa foram cercados por quase 100 policiais motorizados quando seguiam para o centro médico da Polícia, no norte de Quito, e atacados com bombas de gás lacrimogêneo, pedras e tijolos, segundo testemunhas. Durante os protestos, policiais e militares assumiram o controle de diversos quartéis e das instalações da TV estatal do Equador, que parou de transmitir. Os rebeldes também ocuparam a Assembleia Legislativa e o Aeroporto Internacional de Quito.
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