Videla ouviu calado a sentença, anunciada no tribunal em Córdoba |
Considerado o principal arquiteto do plano de repressão que resultou em 30 mil mortos e desaparecidos durante o último regime militar na Argentina (1976-1983), o ex-ditador Jorge Rafael Videla, 85 anos, foi sentenciado na quarta-feira à prisão perpétua pelo envolvimento no assassinato de 30 presos políticos. Foi a primeira condenação de Videla após a anulação em 2003, pelo Congresso argentino, das leis de anistia e indulto.
Ex-general, Videla governou a Argentina nos primeiros cinco anos do regime e terá de cumprir a pena em uma prisão comum. O julgamento encerrado ontem, em um tribunal de Córdoba, se estendeu por cinco meses. Além de Videla, foram condenadas outras 28 pessoas por participação na execução dos 30 presos, em 1976.
Ao longo do julgamento, os advogados de Videla alegaram inconstitucionalidade da pena de prisão perpétua e pediram a anulação do processo por se tratar de crimes já julgados, em 1985, quando o ex-ditador foi condenado e, depois, indultado. Os juízes negaram ambos os pedidos.
Videla, que ouviu a sentença calado, havia se pronunciado na terça-feira, quando defendeu suas ações durante o regime militar. Ele disse que a Argentina não viveu uma "guerra suja’’ na época da ditadura, mas sim uma "guerra justa’’ contra "terroristas’’ de organizações guerrilheiras que "matavam, assaltavam e colocavam bombas’’. O ex-ditador afirmou que é um "bode expiatório’’ e que seu julgamento deve ser entendido como uma "revanche política de quem foi militarmente derrotado e hoje ocupa cargos no governo" — uma menção clara à presidente Cristina Kirchner e aliados.
Ao longo de 2010, a Justiça argentina condenou mais de 60 militares e civis pela repressão durante a ditadura. Cerca de 800 réus ainda aguardam o início do julgamento. Em abril deste ano, outro ex-ditador argentino, Reynaldo Bignone, 82 anos, foi condenado a 25 anos de cadeia.
Na terça-feira, dois ex-torturadores famosos da época da ditadura — os ex-policiais Julio "El Turco" Simón e Samuel Miara — também foram sentenciados à prisão perpétua, em Buenos Aires. Simón, conhecido pelo sadismo, estuprava prisioneiras na frente dos maridos, costumava jogar água fervendo sobre os detentos e usava uma braçadeira com uma suástica.