27 abril 2011

Estudante de Psicologia da SETREM desenvolve estudo sobre a Lei Maria da Penha em Três de Maio

O trabalho foi apresentado no I Congresso Brasileiro
e II Simpósio Sul Brasileiro de Psicologia Jurídica,
em Porto Alegre
A Delegacia Civil de Três de Maio, desde setembro passado, mantém espaço para acolhimento psicológico de vítimas de violência (física, sexual ou psicológica) e de situações traumáticas (assaltos, acidentes de trânsito, etc). Trata-se de uma parceria entre o órgão de segurança e o curso de Psicologia da SETREM visando o desenvolvimento de estágio curricular.
O acolhimento psicológico e escuta de mulheres vítimas de violência vem sendo realizado pela acadêmica do 8º Semestre de Psicologia, Charlize Naiana Griebler, sob a orientação da professora e psicóloga Jeane Lessinger Borges. E com intuito de conhecer amplamente o perfil do público feminino atendido, a estudante realizou pesquisa documental junto aos Boletins de Ocorrência de 2010. A investigação resultou em um artigo, apresentado na primeira semana de abril, no I Congresso Brasileiro e II Simpósio Sul Brasileiro de Psicologia Jurídica, em Porto Alegre.
Intitulado ‘Perfil da vítima e do agressor em registros da Lei Maria da Penha’, expõem dados relevantes: descreve o perfil da vítima e do agressor, bem como aponta fatores de risco para o fenômeno da violência contra a mulher. Segundo Charlize, os principais autores de agressão são indivíduos que se relacionam afetivamente com a vítima: o companheiro (28,8%), marido (25%) e o ex-companheiro (31,7%). “O uso de álcool, por parte dos agressores, esteve presente em 39,4% dos casos, com maior incidência nos agressores de mulheres com mais de 40 anos e casadas.”
Entre as mulheres mais jovens (até 40 anos) o agressor, na maioria dos casos, é o ex-companheiro (41,4%). As vítimas, analisadas pela pesquisa, têm idade média é 35 anos, variaram entre 15 e 88 anos. Outro dado interessante, segundo a estudante se refere à solicitação de medidas de proteção e da representação criminal por parte destas vítimas. “No momento da notificação, 83,7% das mulheres solicitaram medidas de proteção, porém apenas 47,1% representaram criminalmente contra o acusado. Verificou-se, ainda, que 50% das mulheres relataram que as agressões já haviam ocorrido anteriormente, sendo que destas apenas 16,3% notificaram a reincidência das agressões na Delegacia.”
A professora explica que o contexto social e familiar, medo, dependência financeira e emocional, submissão, sentimento de culpa são variáveis que podem interferir diretamente no momento da decisão por denunciar ou não o agressor. “Das que realizaram a notificação de violência em 2010, 67,96% tinham até 40 anos e 32,01%, acima desta idade. Neste sentido, mulheres mais jovens procuram mais os seus direitos, enquanto as acima de 41 anos, buscam, apesar de tudo, preservar o casamento. Pode-se pensar que as questões culturais e sociais influenciam o comportamento das mulheres frente à decisão de notificar e representar criminalmente a violência sofrida. Torna-se importante compreender a dinâmica da violência conjugal. A escolha amorosa, a presença de um ideal de família e de casamento e as discussões sobre gênero se cruzam neste fenômeno”.
Quanto ao tipo de violência sofrida: 86,5% foram de ordem psicológica; 44,2% física; 30,8% patrimonial; 16,3%, moral e 1,9%, sexual. A violência psicológica é considerada pela professora como tendo um alto custo emocional, pois é diária e constante, caracteriza-se como uma tortura interminável.  “A violência psicológica não é visivelmente detectada, porém está associada a seqüelas duradouras na autoestima e no psiquismo das vítimas. Diversas psicopatologias são comumente observadas, como por exemplo, depressão e estresse pós-traumático,” conclui.
Um espaço de acolhimento, a valorização do relato destas mulheres, sua trajetória de vida e suas ambivalências foram apontadas por Charlize como sendo importantes no atendimento psicológico às vítimas. O Serviço de Psicologia da Delegacia está à disposição da comunidade de Três de Maio. Interessados devem marcar horário no local.