08 maio 2011

Beleza Interior: O chimarrão mais rápido do mundo

Pedro José Schwengber prepara seu chimarrão
em apenas oito segundos
Foto:Jean Schwarz
Um olhar diferenciado sobre costumes e peculiaridades gaúchos é a proposta da série Beleza Interior, que apresenta um destino diferente do Rio Grande do Sul todos os sábados de 2011. A cidade visitada na edição de hoje é Venâncio Aires, a capital da bebida mais famosa do Estado.
O tempo de preparo de um chimarrão costuma ser de cinco minutos.
Não para o administrador Pedro José, 59 anos, que detém o recorde mundial. Arruma o mate em inacreditáveis oito segundos. Enquanto o leitor ainda está soletrando seu sobrenome (S-C-H-W-E-N-G-B-E-R), ele já acabou e estende a cuia.
Bigodudo, de lenço vermelho e vestido a caráter para o bochincho, dispensa firulas na hora de aprontar a mais famosa bebida do Rio Grande do Sul.
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Qual o mistério? Nenhum: põe uma colher de erva, em seguida despeja água quente até o pescoço da cuia e cobre a abertura de novo com erva. Deu! O resto é empurrar o verde com a bomba e criar uma lateral.
— Temos que simplificar o ato e parar de assustar os visitantes, como se fosse difícil. Qualquer um pode preparar — avalia.
Sua crença tem produzido uma seita em Venâncio Aires, terra de 65 mil habitantes, situada a 127 quilômetros de Porto Alegre. Pedro coordena a escola itinerante de chimarrão, ONG criada em 2004 para preservar a tradição. Levou a expressão de “mala e cuia” a sério, estruturou um ônibus e escalou uma equipe de professores a ensinar como se arma um mate para as crianças no Estado. Transmitiu a arte do chá manso gaúcho a 1 milhão de pessoas.
— Gosto mais do chimarrão do que de café — confessa universitária de Direito da Unisc Eduarda Lenz, 17 anos, que frequentou a Escola de Chimarrão.
O mate é uma unanimidade em Venâncio Aires, uma mistura divertida de religião e ciência.
— Quem mora aqui é obrigado a tomar, senão não ganha desconto no IPTU — brinca Cíntia Leissmann, 22 anos, promotora de eventos.
Tudo no município traz chimarrão no nome: empresa de transporte, vidraçaria, sapataria, pet shop, mercado, salão de beleza. Na tarde dominical, cerca de 300 moradores lotam as escadarias e arredores da Igreja da Matriz para gervear à vontade, até o sol cansar.
— Nem compro erva, recebo de graça na praça central — diz a aposentada Elci Terezinha da Rosa, 62 anos, uma das seguidoras apaixonadas do amargo.
Dispensável perguntar para alguém da comarca se faz chimarrão, eles já saíram do ensino fundamental da erva, estão na pós-graduação.
— Faz chimarrão?
— Qual tipo? — respondeu o lojista Evandro Hochscheidt.
— Hein?
Há vários tipos de chimarrão na cidade, além das generalizações de “curto” e “longo”. Uma oferta de desenhos que supera os nós de corda da Marinha. Na verdade, ele é preparado em 32 modelos. Ou obedecendo a alguma figura (roda de carreta, formigueiro, ferradura e toca de tatu) ou seguindo uma estética (tapado, repartido, invertido) ou ainda de acordo com um ambiente (praia, serra, galpão).
— Acho que o chimarrão veio antes da mamadeira — ri Evandro.
Sua influência está na versatilidade do uso. Atende tanto momentos de solidão como de solidariedade.
— Quando estou sozinho, vou de chimarrão. Acompanhado, vou de chimarrão. Uma ida e volta de mim — diz.
Pedro José Schwengber tem na ponta da língua as recomendações médicas:
— É estimulante do coração e do sistema nervoso, elimina os estados depressivos e tonifica os músculos contra a fadiga e o cansaço; tem complexo B, cálcio, magnésio, sódio, ferro e flúor. Se o vinho é bom para saúde, o chimarrão é tribom.
O mateador mais veloz do mundo é cheio de H, carrega um termômetro junto da térmica.
— A água quente deve estar em 70°C. A temperatura determina mais o sabor do que a própria marca da erva.
Questiono se não é frescura medir a água quente.
— Bobagem, o mate é a nossa febre, não pode baixar.