17 maio 2011

Brasil e Argentina decidem negociar conflito comercial

Nota oficial explica que ainda será necessário marcar local e 
data do encontro
Brasil e Argentina decidiram nesta terça-feira em Buenos Aires realizar na próxima semana uma reunião de secretários da Indústria para iniciar negociações com o objetivo de resolver o conflito comercial entre ambos os países. A informção é do governo argentino.
"O secretário da Indústria, Eduardo Bianchi, se reunirá na próxima semana com seu par brasileiro da Indústria, Alessandro Teixeira, como foi negociado hoje (terça-feira) com a ministra da Indústria, Débora Giorgi, e o embaixador do Brasil na Argentina, Enio Cordeiro", disse o ministério argentino em um comunicado.
A nota oficial explica que ainda será necessário marcar um dia para o encontro, e definir se acontecerá em Buenos Aires ou Foz do Iguaçu. Entretanto, destaca que "os dois governos começaram a entrar em consenso e coordenar os temas da agenda que serão abordados na reunião bilateral".
Crise no Mercosul
Hoje, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, negou que as relações entre Brasil e Argentina tenham entrado em crise, devido à suspensão das licenças automáticas para importação de automóveis e autopeças. Segundo ele, o diálogo com o governo argentino é frequente e constante e que "os problemas existem" quando há um elevado volume comercial envolvido.
“Nunca nós interrompemos o diálogo com a Argentina, ao contrário, temos excelentes relações e queremos resolver os problemas”, afirmou Pimentel depois do almoço oferecido pela presidenta Dilmna Rousseff ao primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, no Itamaraty. “Os problemas existem mesmo e quando há um volume de comércio grande como o nosso com a Argentina não tem nenhuma crise nem nada.”
A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos. O volume do comércio bilateral é de US$ 33 bilhões, segundo dados de 2010. Pimentel disse que vai conversar com o embaixador do Brasil na Argentina, Enio Cordeiro, para saber como estão as negociações com o governo da presidenta argentina, Cristina Kirchner.
No último dia 12, Pimentel anunciou a suspensão das licenças automáticas para a venda de automóveis e autopeças. Com isso, o processo de entrada de produtos argentinos no Brasil fica mais lento e pode demorar até 60 dias para ser concluído. A restrição não é apenas para produtos argentinos, inclui também veículos e peças do México e da Coreia do Sul.
Caminhões parados na fronteira
Há mais de um ano, os empresários brasileiros reclamam que a Argentina cria dificuldades para o desembaraço de mercadorias brasileiras. Em meio ao impasse, caminhões brasileiros aguardam a decisão política para conseguir passar pela fronteira do Brasil com a Argentina.  Dezenas de cegonheiras estão paradas em Uruguaiana. Os motoristas, principalmente os autônomos, queixam-se por estar há uma semana sem poder sai do Porto Seco Rodoviário. Já líderes classistas defendem a posição do governo por estabelecer regras às relações comerciais entre Brasil e Argentina, até então sempre favoráveis ao vizinho país.
Conforme Lauri Kotz, presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Rio Grande do Sul, antes o ingresso era automático enquanto máquinas e implementos brasileiros, por exemplo, sofriam vários entraves para serem nacionalizados na Argentina. Ele acrescentou que pequenas artimanhas burocráticas, barreiras não tarifárias e a desvalorização do peso em relação ao real contribuíram para prejudicar os negócios entre os principais parceiros do Mercosul.
Apesar disso, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, garantiu, na segunda-feira, que as licenças não automáticas exigidas à entrada de automóveis no Brasil não provocaram qualquer desgaste com a Argentina.
Argentina critica ação do Mercosul
Com quase 3 mil automóveis barrados na fronteira com o Brasil desde a última quarta-feira, as montadoras argentinas criticam a decisão do governo brasileiro de adotar o regime de licenciamento não automático para importação de automóveis. Em nota, a Associação de Fábricas de Automotores (Adefa) expressou ontem "a preocupação da indústria automobilística argentina pelo conflito que dificulta o comércio automotivo bilateral com o Brasil".
Para o presidente da entidade, Aníbal Borderes, as medidas "levantam dúvidas sobre o andamento do Mercosul, que já demonstrou ser um instrumento válido para o desenvolvimento dos países da região". Segundo ele, 50% do total do intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina é constituído por automóveis, e milhares de empregos poderão ser afetados pelas barreiras.