Kelly Cristina Meller, leitora-repórter* |
O riso é um “medicamento” 100% orgânico, gratuito e contagiante, idealizado pela fisiologia humana para ser consumido sem moderação.Ele relaxa o corpo e a mente, fortalece as defesas do organismo, melhora a circulação e a pressão arterial e libera endorfina, hormônio que promove uma sensação de bem-estar geral. Quem ri pouco pode estar padecendo dos males provocados por uma doença chamada “déficit de alegria”.
Cardiologistas do Centro Médico de Maryland, Estados Unidos, comprovaram que a serotonina, neurotransmissor relacionado ao bem-estar, liberada pelo riso protege o coração contra infarto, trombose e acidente vascular. No Japão, cientistas ligados à Universidade de Tsukuba verificaram a queda da taxa de glicose em grupos de diabéticos convidados a assistirem apresentações teatrais cômicas. O ato de rir ainda se configura como a mais prazerosa das ginásticas. A cada 15 minutos de prática, queimamos 40 calorias. No livro Mente e Cérebro Poderosos – Um Guia Prático para a sua Saúde Psíquica e Emocional (Cultrix), aprendemos que o ato de rir é um portal para o estado meditativo. “As pernas amolecem, o corpo balança e o pensamento para”. Melhor ainda se o impulso vier de dentro. “O chamado riso búdico começa na alma e depois se manifesta no corpo físico, sobretudo nos olhos, que passam a brilhar. É uma energia de elevada potência que nos acorda, nos torna presentes”.
E de fato, a imagem do Buda é a representação mais fiel do tal riso búdico. Só de olhar, ficamos mais leves. Mas se Buda foi um príncipe de porte físico notável, por que sua estátua ganhou uma pança? O motivo parece óbvio para o guru indiano Osho: “Como você pode dar uma gargalhada com uma barriga pequenininha? Tudo é reprimido na barriga. Assim, quando você ri de verdade, essa região do corpo vibra”, ele afirma no livro Viva o máximo, que tive o prazer de conhecer neste fim de semana.
Para os budistas,somente a quietude interior é capaz de desencadear o verdadeiro riso. “Quando o riso nasce do silêncio não é algo deste mundo; ele é divino”, diz o sábio indiano. Entre os mortais, o riso costuma ser reprimido, tanto pela vontade de agradar ao outro, como pela timidez e até normas de etiqueta. Devemos partir para a reavaliação de nossos valores, visando ao descondicionamento de tantas mensagens hereditárias.
As mulheres são as grandes vítimas dessa repressão. Em 2010, a pesquisa intitulada A Cultura da Risada, com 125 homens e 125 mulheres, onde a primeira pergunta da pesquisa foi: você ri muito ou pouco? Responderam ‘muito’ 84% dos homens, enquanto 68% das mulheres deram a mesma resposta. É uma diferença bastante significativa. O estudo detectou que 60% das mulheres confessa que gostaria de rir mais. Mas o que nos impede de sorrir com mais frequência? Os homens riem dos amigos e com os amigos, no trabalho, no bar, em situações diversas. Dizem que têm bom humor, que são bobos, descontraídos. As mulheres riem menos porque se preocupam com a autoimagem, com a postura profissional, com o que os outros vão achar e também por terem menos oportunidades para rir.