28 janeiro 2012

Desafios aos calçadistas gaúchos se agravam ao longo dos anos

Marlon Sérgio Koch foi demitido, mas voltou a trabalhar 
no setor / Foto: Fábio Winter / Especial
Concorrência desleal com empresas chinesas no mercado externo, restrições na entrada do produto na Argentina, guerra fiscal no Brasil e invasão de sapatos importados no mercado nacional são apontados como os principais entraves por empresários gaúchos das indústrias calçadistas para o crescimento do setor. São também esses os problemas que estão fazendo com que grandes empresas do Rio Grande do Sul invistam em fábricas no Nordeste ou em países como Índia, República Dominicana e Nicarágua.
Em 2011, o Brasil perdeu 21% em volume de exportações. O chamado custo Brasil, o valor gasto pelas indústrias para produzir aqui, é apontado como um empecilho para concorrer no mercado externo. A alta carga tributária e a mão de obra mais cara fazem com que o país saia atrás na disputa em preço com os asiáticos - em especial, com o calçado produzido na China.
Sem perspectiva de solução definitiva, as dificuldades para enviar calçados para a Argentina também são um problema imediato para os exportadores. As liberações das licenças de entrada, que deveriam ocorrer em 60 dias, em alguns casos estão demorando mais de 120 dias. Marcas gaúchas investem há cerca de 20 anos no mercado do país vizinho.
O consumo de calçados vem crescendo no país. A indústria nacional, no entanto, teme que esse espaço que se amplia seja ocupado pela invasão de importados. Essas compras cresceram 40,4% em valores no ano passado.
A retomada do emprego na indústria calçadista gaúcha ainda é frágil. Apesar de 2011 não ter confirmado a tendência de crescimento verificada no ano anterior, quando foram abertas mais de 8,6 mil vagas, nos últimos dois anos foram criados 4,44 mil postos de trabalho no setor, o equivalente à população de Araricá (4.864), no Vale do Sinos.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) sobre o ano passado, divulgados durante a semana, mostram que o Estado teve 4.176 demissões a mais do que contratações (87.857 desligamentos para 83.681 admissões).
Até novembro, o resultado era positivo em 679 vagas. A reversão, portanto, ocorreu no último mês. Considerando os últimos cinco anos, quando o volume de demissões se acentuou, o saldo ainda é negativo, mas vem caindo.
Muitos dos trabalhadores demitidos por empresas calçadistas encontram nas portas fechadas das fábricas do setor uma chance de começar em outro ramo. Em março do ano passado, o técnico em segurança do trabalho Marlon Sérgio Koch, 32 anos, foi demitido da Calçados Rojana, de Sapiranga. Foram três meses procurando uma colocação no mercado até que Koch conseguisse um novo emprego em outra indústria do setor.
— Minha experiência e os meus conhecimentos estão focados na indústria calçadista. Com a saída de fábricas do Vale do Sinos, ficou um pouco mais difícil de conseguir trabalho no setor. Foi um período de apreensão — lembra Koch.