Após tanto tempo na atividade, Ervino Vanzella adotou lupa para facilitar análise dos registros (Foto: Vilson Winkler / Divulgação) |
Todos os dias, às 7h, Ervino Santo Vanzella, 78 anos, acorda, dá bom dia à mulher, toma café da manhã e mantém um hábito inadiável, até mesmo aos domingos: sair até a varanda para verificar o pluviômetro. O aposentado mede a precipitação de chuvas em Porto Mauá, no noroeste do Estado, desde 1990, o que o fez ser apelidado pelos moradores da região como “homem do tempo”.
— Eu faço isso diariamente, por amor à camisa. Não ganho nada, nadinha — afirma Vanzella.
A rotina começou quando o aposentado morava em uma propriedade em São João do Mauá, interior do município. Como plantador de fumo, ele precisava ter um controle da quantidade de chuva para cuidar da lavoura. Há mais de duas décadas, Vanzella conta que recebeu a visita de um instrutor de fumageira, que sugeriu comprar um pluviômetro e, diariamente, anotar os registros da chuva em um caderno.
— Desde lá, nunca mais parei de medir. Virou um hábito, mesmo depois que me mudei para o centro da cidade. Às vezes, quando eu me atraso para acordar, a patroa me pergunta se não vou lá medir. Ela me cobra mesmo — brinca.
Estatísticas são entregues anualmente para a prefeitura
Além de fazer do ato uma rotina diária, Vanzella dedica-se à produção de vinho e mel. Ele ressalta que, há alguns anos, instalaram uma estação de meteorologia na cidade e contrataram um profissional assalariado para executar o serviço. Mas, nem isso o fez desistir da atividade rotineira.
— É meu maior prazer. Quem me conhece, elogia pelo trabalho que faço. Mas não me gabo, fico apenas constrangido — admite.
Vanzella, que tem oito filhos, 15 netos e sete bisnetos, só enfrenta hoje um empecilho na tarefa: o problema de visão. Mas isso não o impede de revisar as anotações. Só exige que ele utilize uma lupa, ferramenta que tornou-se indispensável para ajudá-lo a conferir e analisar os registros dos últimos 23 anos.
No caderninho, é possível ver, por exemplo, o ano que teve a maior quantidade de precipitação acumulada em Porto Mauá: 1994, quando 3.119 milímetros foram registrados no município. As anotações também revelam que 2004 foi o ano que menos choveu: 1.545 milímetros.
Ao final de cada ano, Vanzella envia relatório completo das medições à prefeitura, que admite não utilizar os dados para uma ação específica, mas faz questão de recebê-los.