Parte do grupo de 28 trabalhadores vítimas de estelionato em Santos, SP. (Foto: Ivair Vieira Jr/G1) |
O que era uma proposta tentadora de trabalho se transformou em um pesadelo para um grupo de 28 homens, nesta segunda-feira (27), em Santos, no litoral de São Paulo. Os trabalhadores, de vários estados do país, seriam contratados por um consórcio para transformar um navio em uma plataforma de petróleo. No entanto, teriam que pagar um curso para poder embarcar, que custaria R$ 1.300. Os golpistas, além de sumirem com o dinheiro, levaram também os documentos das vítimas.
O golpe teve início quando o homem que seria o coordenador dos trabalhadores, que não quer se identificar, foi contatado por supostos representantes de duas empresas multinacionais especializadas em reforma e manutenção de plataformas de petróleo. "Há duas semanas, eles viram o meu currículo e disseram que eu tinha o perfil que se enquadrava na empresa. Falaram de uma vaga em Santos e perguntaram se eu tinha uma equipe montada. Eu respondi que sim, mas ela estava espalhada pelo país. Em poucos dias eu reuni eletricistas, caldeireiros, soldadores, instrumentistas, encanadores, maçariqueiros, supervisor e encarregados", relata o coordenador.
A proposta era tentadora, um salário de R$ 3.900 mais 75% de taxa de deslocamento do estado, totalizando cerca de R$ 6.800. Ainda haveria benefícios como plano de saúde, odontológico e vale refeição. A carga horária seria de 14 dias trabalhando seguidos de 14 de folga.
Os golpistas, que deram o nome de Eduardo e Janderson informaram que, para preencher as vagas, os candidatos teriam que fazer o Curso Básico de Segurança de Plataforma (CBSP), também conhecido como Salvatagem, obrigatório para todos os profissionais não aquaviários que atuam a bordo de plataformas de petróleo. O custo seria de R$ 1.300. Dos 28 trabalhadores, que vieram de estados como Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais, 18 não tinham o curso e conseguiram o dinheiro.
Depois de tudo combinado, o grupo se encontrou nesta segunda-feira em uma rodoviária na Capital. Foram recepcionados pelo homem que deu o nome de Eduardo e dois motoristas, todos com uniformes das empresas Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. Na sequência, se encaminharam para Santos, em dois veículos, e almoçaram por conta do suposto empregador. Depois disso, Eduardo recolheu os R$ 1.300 dos 18 trabalhadores que não tinham o curso, um total de R$ 23.400, juntamente com suas carteiras de trabalho e cópias de vários documentos, dizendo que tudo seria levado para o departamento de Recursos Humanos do consórcio.
O suspeito informou que os homens seriam hospedados em Santos, Bertioga e Itanhaém, e que um ônibus da empresa os levaria até os alojamentos. Pouco depois, saiu acompanhado de um representante dos trabalhadores, mas em determinado momento, perto da rodoviária da cidade, disse que ia até a van pegar uma mochila, e não voltou mais.
Assim que o grupo percebeu que foi vítima de um golpe, se encaminhou para o 1° Distrito Policial de Santos. O clima entre eles era de total revolta e desolação. "Um cara da minha idade, com 58 anos, me senti uma garoto de 10 anos, sendo enganado. É como se eu tivesse ganhado uma bala, e na hora que eu vou pegar não é bala, é sujeira", lamenta o coordenador do grupo.
A maior parte dos trabalhadores estava empregada e largou tudo para vir para Santos. Muitos pediram dinheiro para pagar o suposto curso de Salvatagem. O instrumentista Ramon Fialho dos Santos, de 23 anos, foi um deles. Ele veio da Bahia para o novo emprego. "Eu nem gosto muito de viajar, mas a gente sempre quer dar uma vida melhor para a família. Quando me falaram o salário, eu vi essa chance. Eu pedi R$ 650 emprestado e tomei esse tombo. Agora eu espero que seja feita Justiça, tanto a do homem quanto a de Deus", diz.
O caso foi registrado como estelionato e retenção de documentos. Segundo a Polícia Civil, existe a possibilidade do golpe ter sido aplicado pelo mesmo grupo que cometeu um crime parecido há cerca de três meses em Santos. Até o momento, ninguém foi preso, mas os policiais já têm a placa da van utilizada na ação, o que deve ajudar nas investigações.