25 outubro 2013

Ministra sugere cortejo com restos mortais de Jango em São Borja

João Belchior Marques Goulart ( Presidente Jango)
e esposa Maria Thereza com o filho João Vicente
A ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, sugeriu cortejos no interior do Rio Grande do Sul com os restos mortais do ex-presidente João Goulart, que serão exumados no dia 13 de novembro em São Borja, na Fronteira Oeste.

A ideia foi lançada nesta sexta-feira (25) em reunião com representantes de 13 partidos políticos na Sala do Conselho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, e segundo a assessoria da secretaria, teve uma aceitação positiva.

"O nosso objetivo com essa reunião foi conscientizar e mobilizar todas as lideranças políticas, pois esse é um processo que envolve o estado democrático e o direito à memória e à verdade. Jango foi o único presidente que morreu no exílio, então nada mais justo e correto que todos estejam unidos para lhe prestar as homenagens que não teve quando de sua morte", disse a ministra.

Os restos mortais de Jango serão levados a Brasília, em uma investigação com o objetivo de descobrir se o ex-presidente foi morto por envenenamento ou por outras circunstâncias durante exílio em 1976 na Argentina. Após a realização de exame antropológico e de DNA, para identificar o corpo, serão coletados materiais necessários para outros testes no exterior.

Participaram do encontro representantes do PCB, PCdoB, PDT, PMDB, PP, PPL, PSB, PSC, PSDC, PSL, PT, PTB e do Solidariedade. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria dos Direitos Humanos, o objetivo da reunião foi explicar como será realizado o processo de exumação do ex-presidente. Rosário afirmou que os partidos devem se mobilizar para realizar homenagens ao presidente na saída do estado.

'Não podemos pensar como na Guerra Fria', diz neto
Representante da família no processo, o advogado e neto de Jango Christopher Goulart afirma que o cortejo será parte da honraria de chefe de estado que será concedida a Jango. Segundo ele, todos os partidos reconheceram a importância das homenagens ao ex-presidente.

"Todos acolheram e se dispuseram a contribuir. A questão toda é que envolve um legado, o apelo da trajetória política do meu avô, que hoje, 50 anos depois, existe uma interpretação necessária. Não podemos continuamos pensando com a cabeça da Guerra Fria, e me parece que há convergência de todos os partidos neste sentido", diz.

Segundo o perito criminal Amaury de Souza Jr, que está à frente da exumação, o mesmo exame será realizado em mais de um laboratório, a fim de que se garanta a isenção e a objetividade dos resultados. Os nomes e as nacionalidades dos laboratórios não serão divulgados.

A justificativa para a contratação de laboratórios internacionais, segundo Maria do Rosário, é a de que o próprio Estado é suspeito de ter cometido o crime contra Jango, logo ele não poderia oferecer os resultados definitivos da exumação.

Após o procedimento, a previsão é de que o corpo volte à cidade de São Borja em 6 de dezembro, data que marca 37 anos da morte do ex-presidente.

João Goulart morreu no exílio, na Argentina, em 1976. O laudo oficial afirma que ele sofreu um ataque cardíaco. Entretanto, há suspeitas de que ele tenha sido envenenado por uma cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Para a família de Jango, ele teria sido assassinato em uma ação da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes.