26 novembro 2013

MP recebe inquérito sobre a fraude do leite em Três de Maio

Foram apreendidos 3 resfriadores de leite em Três Passos,
onde ocorria fraude (Foto: Paulo Marques)
O Ministério Público de Três de Maio, no Rio Grande do Sul, recebeu nesta terça-feira (26) a investigação feita pela Promotoria Especializada Criminal de Porto Alegre sobre a fraude do leite ocorrida no município da Região Noroeste do estado. Foram denunciados o chefe do grupo, o transportador Airton Reidel, a mulher dele, Rejane Dias, e os sobrinhos Roberto Carlos Baumgarten e Laércio Rodrigo Baumgarten.

Os acusados vão responder pelos crimes de formação de quadrilha e adulteração de produto alimentício. "A partir de agora eles serão ouvidos, e a Justiça vai recolher provas", disse o promotor de Justiça, Pablo da Silva.

A investigação apontou que o líder da quadrilha era Airton Reidel. A mulher dele era a proprietária de todos os bens da família, muitos adquiridos com o dinheiro da fraude. Os sobrinhos eram os motoristas que transportavam o leite.

 Além dos crimes de formação de quadrilha e adulteração de produto alimentício, o casal vai responder por lavagem de dinheiro. Só por este crime, a pena máxima pode chegar aos 10 anos de prisão. O advogado dos acusados garante que os produtos químicos encontrados durante a operação eram utilizados para a limpeza dos tanques.

"Eles usavam tanto a água oxigenada como a soda cáustica para limpar os caminhões em concentração baixa. Então agora vamos esperar para ver a denúncia e saber por quais motivos estão sendo acusados", disse o advogado Juarez Antônio da Silva.

 A terceira etapa da Operação Leite Compensado foi realizada no início deste mês. Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão na casa e empresa do transportador em Três de Maio. A suspeita é de que era utilizada água oxigenada para aumentar a durabilidade do leite. Airton Reidel foi preso no dia da operação por porte ilegal de arma.

Entenda o caso
Airton Reidel é o suspeito de liderar a quadrilha que
fraudava o leite em Três de Maio
(Foto: Marjuliê Martini/MP)
O promotor Mauro Rockenbach disse que a empresa LBR, que representa a marca Bom Gosto no Rio Grande do Sul, identificou o problema ao receber o produto e acionou o Ministério Público. A partir daí, a investigação em cima deste transportador se iniciou.

"Não temos como afirmar que este produto tenha chegado até a população. A indústria está mais criteriosa com a fiscalização dos produtos. Identificou a mistura, não recebeu a carga e nos avisou", disse ao G1 o promotor.

Segundo o Ministério Público, três relatórios de um laboratório credenciado pelo Ministério da Agricultura apontaram presença de água oxigenada, o que é proibido pelas normas da Anvisa. De acordo com os laudos de carga de leite da Laticínios Bom Gosto, duas delas, transportadas pelo Transportes Reidel & Dias Ltda, foram rejeitadas em 12 e 15 de outubro devido à presença de peróxido de hidrogênio.

A Comércio de Laticínios Mallmann Ltda rejeitou uma carga em 14 de outubro. No laudo, a empresa afirma: “lembramos que análise positiva para peróxido de hidrogênio é fraude. Por meio da adição de peróxido de hidrogênio (Água Oxigenada), uma ação fraudulenta ao leite, busca conservar suas propriedades físico-químicas, inibindo o desenvolvimento de microrganismos contaminantes. Esse tipo de fraude mascara deficiências da higiene nas etapas de ordenha, acondicionamento e transporte”.

Conforme o promotor, o leite que era rejeitado pela indústria era repassado para queijarias. Três queijarias receberam ação do Ministério Público e da Secretaria da Saúde.

Mauro Rochemback disse que foram encontrados no depósito onde o transportador fazia a adulteração do leite diversos produtos químicos, como sal de cozinha, e outro que servia para testar a acidez do leite ainda 50 litros de soda cáustica. Ainda foram encontrados 50 litros de soda cáustica na casa do empresário. Também foram apreendidos três caminhões e três resfriadores, equipamento que só é permitido para produtores de leite e indústria, não por transportadores. Na casa do casal também foi encontrada uma arma calibre 32, registrada no nome de outra pessoa. O dono da residência e líder do grupo foi preso em flagrante. Em Nova Candelária, foram encontrados outros 50 litros de soda cáustica.

Devem ser denunciados por associação criminosa e lavagem de dinheiro o empresário, de 31 anos, a esposa dele, de 32 anos, que sabia da atividade e adquiria produtos com o dinheiro do crime, e dois sobrinhos, que eram os motoristas. Também foi cumprido um mandado de busca e apreensão na cidade de Nova Candelária, onde morava um dos motoristas.

"Recebemos este novo caso de adulteração com espanto. É inadmissível que isso ainda esteja acontecendo depois de tudo que foi identificado nas outras operações. Ainda há transportador adulterando o leite. Isso é a prova da ganância em detrimento à saúde da população", disse o promotor.