02 outubro 2009

Casarão onde Jango morou na adolescência vira Memorial em São Borja

Quando guri, Dirceu Dornelles ouvia uma advertência de Vicentina, a dona Tinoca, sempre que entrava na casa da família Goulart, no centro de São Borja, à procura de Jango:
— Não entra com os pés sujos — pedia a mãe de João Goulart.
Ontem, aos 80 anos, Dornelles vestiu terno e gravata, limpou os pés e entrou de novo no casarão, agora como guardião da memória do ex-presidente. É um dos últimos amigos vivos de Jango. É também o presidente de honra da Associação de Amigos que irá administrar o acervo do Memorial Casa João Goulart.
O memorial inaugurado ontem ainda é singelo, quase precário. Mas Dornelles estava feliz passeando pelas salas do casarão com João Vicente, um dos filhos de Jango, que visitava o museu pela primeira vez. Dornelles é tabelião. Aproximou-se de Jango, ainda adolescente, porque eram vizinhos. Jango, comprador de gado e terras, passou a fazer fortuna, com apenas 25 anos. Donelles ganhou a confiança do moço e, já adulto, assumiu o registro legal de todas as suas propriedades. Virou amigo de Jango, visitou-o em Brasília como presidente e depois como exilado na Fazenda El Milagro, em Maldonado, no Uruguai.
Os objetos expostos no memorial têm um pouco do Jango presidente, deposto pelo golpe militar de 1964 e morto no exílio em 1976. Dornelles mostra o cartão de visita do presidente, fotografias, recortes de jornal. Mas o que revela Jango é mesmo seu acervo de são-borjense, de gaúcho. São as memórias de suas raízes. As botas, as bombachas, objetos de uso pessoal — que incluem uma bomba de chimarrão, um cinzeiro de madeira marcado pelas brasas, uma máquina de escrever Remington e um mataborrão.