Se o El Niño é um sinal de safra de verão cheia, para a de inverno é um desastre. Começando a ser colhido na região noroeste do Estado, o trigo está sofrendo com os efeitos do fenômeno meteorológico.
Além de terem provocado doenças nos trigais, a chuva de setembro e de outubro atrasam a colheita. Apenas ontem o produtor João Fernando Wiatrovski, 23 anos, conseguiu colocar a máquina na lavoura, em Giruá. Desde a semana passada o trigo estava pronto para ser retirado da terra, mas a chuva e o solo úmido impediam o trabalho na plantação.
Wiatrovski tentaria colher metade dos seus 30 hectares até hoje, quando pode chover novamente. Os primeiros grãos não revelaram um quadro animador. O agricultor verificou que o pH do produto, um dos determinantes da qualidade, está abaixo de 78, o índice que interessa ao mercado. E a produtividade está aquém das 50 sacas por hectare esperadas no início.
– A planta sofreu com três geadas fortes em julho e com a chuva. Vou colher de 20 a 25 sacas por hectare. Imagino pela amostra que o pH está em 76 – afirma Wiatrovski.
A produção gaúcha estimada para esta safra é 22% inferior à passada. Isso se deve principalmente a uma redução de área. A expectativa de rendimento também é menor: 12% inferior à de 2008. Um dos motivos é a baixa tecnologia aplicada nas lavouras.
Para dificultar mais a situação do triticultor gaúcho, há altos estoques de trigo no mundo. Chega a 664 milhões de toneladas, o segundo maior da história, conforme Elcio Bento, analista de mercado da Safras & Mercado. Resta ao produtor esperar pelo governo, com o preço mínimo. Mas é preciso que o trigo tenha qualidade.