20 março 2010

52 histórias: A garota "Poltergeist" aquietou seus poderes

Pratos decolavam da mesa de jantar, levitavam como disco-voadores, depois se espatifavam contra a parede. Luzes piscavam na roça de milho, mas não eram vaga-lumes. Espíritos apareciam para um bate-papo, comunicando-se por meio de batidinhas e toques, num código morse de arrepiar os cabelos. Cadeiras se arrastavam sozinhas, colchões se retorciam, lâmpadas estouravam fulminadas pelo olhar.
A responsável por esses fenômenos paranormais, que provocaram um turbilhão de espantos na região de Santa Rosa, em 1988, hoje está doente. Aos 34 anos, Leonice Fitz recupera-se de um câncer ósseo que a obriga a tomar morfina a cada quatro horas. Passa os dias na cama, debilitada, conforta-se de suas dores ao lado da cachorrinha Priscila.
A Leonice enferma não gosta de lembrar a Leonice menina que atraiu exorcistas, caçadores de fantasmas, chatonildos e multidões de curiosos ávidos por assistirem a mesas gravitando como espaçonaves. Recostada em quatro travesseiros, conta que pagou alto por seus poderes.
— Por que tive de ser diferente dos outros? — penaliza-se.
E será que os poderes paranormais continuam ativos? Antes de responder, ela acende mais um cigarro —a média é um a cada 10 minutos — e aponta para a luz que ilumina o quarto:
— Se quiser, desligo aquela lâmpada, eu desligo. Mas tenho medo de fazer isso e não parar mais. Aí, quem vai me ajudar?
Os receios se justificariam. Depois que se tornou a Garota Poltergeist para a imprensa do país, Leonice deixou o pacato Rincão da Boa Vista para trabalhar em Santa Rosa. Mas não parava nos empregos de doméstica, parecia uma feiticeira de avental a assustar as patroas. Numa ocasião, o ferro de passar roupa esquentou, embora estivesse desligado. Em outra, as bocas do fogão a gás se acenderam sem que fossem acionadas.