03 maio 2010

Brasileiros expulsos do Paraguai conversarão hoje com Lula

O Paraguai convulsionado criou uma peculiaridade nos campos da fronteira com o Brasil: agricultores expulsos por sem-terra paraguaios formaram um acampamento de sem-terra brasileiros em Itaquiraí (MS). São 400 “brasiguaios” que emigraram duas décadas atrás e foram expulsos do país vizinho.
O acampamento é organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) brasileiro às margens da BR-163, com pequenos e médios produtores expulsos nos últimos três anos. Itaquiraí (MS) é cidade agrícola erguida nos anos 70 por descendentes de gaúchos a 80 quilômetros da fronteira com o Paraguai.
O encontro de hoje entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega paraguaio, Fernando Lugo, na avenida que divide Ponta Porã, no oeste de Mato Grosso do Sul, e Pedro Juan Caballero, capital do departamento paraguaio de Amambay (a 300 quilômetros do acampamento), será aproveitado para as autoridades de Itaquiraí e o MST relatarem a situação aos dois líderes.
A prefeita Sandra Cassone (PT) deve decretar estado de emergência para conseguir ajuda federal a fim de dar assistência às famílias, informou seu chefe de gabinete, Fabio Luiz Lorenci.
Os presidentes discutirão a situação paraguaia. Lugo, que pedirá ajuda a Lula, decretou estado de exceção em Amambay e outros quatro departamentos para combater grupos como o Exército do Povo Paraguaio (EPP).
Os brasiguaios acampados em Itaquiraí afirmam que foram expulsos por um grupo contrariado com o não-cumprimento da promessa de Lugo de retirar dos campos paraguaios os brasiguaios que não tivessem títulos – a maioria dos cerca de 400 mil brasiguaios tem problemas de documentação de suas propriedades.
– Um comerciante de grãos queria comprar nossos 300 hectares com gado e soja. Recusamos a venda. Um dia, 150 sem-terra entraram pela porteira e nos mandaram sair. Gritavam em guarani: voltem para o Brasil – relatou a gaúcha Ana Ferrari Favero, que teve de voltar com o marido para o Brasil, deixando os filhos no Paraguai.
Destino semelhante teve Rosilene da Silva, que vivia na propriedade de 15 hectares com os três filhos e o marido. Certa noite, sem-terra dispararam tiros contra as paredes de madeira.
– Nos deitamos no chão e rezamos. Uma semana depois, saímos, deixando o que conseguimos em 20 anos – diz.
Já o brasiguaio Pedro Gella, 28 anos, foi alvejado nas costas por um tiro quando colocava veneno na plantação de algodão. Ficou 20 dias no hospital.