O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu à equipe econômica para refazer as contas sobre a arrecadação porque não está disposto a vetar o reajuste de 7,72% para os 8,3 milhões de aposentados que ganham acima de um salário mínimo. Lula já decidiu barrar a emenda que extingue o fator previdenciário, mas não quer arcar com o ônus político de um veto duplo no fim de seu mandato e num ano eleitoral.
A equipe econômica, porém, continua pressionando o presidente, sob o argumento de que não há recursos. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que será necessário fazer novo corte no orçamento – o terceiro – se Lula decidir pelos 7,72%. Em março, foram R$ 21,8 bilhões, e neste mês, R$ 10 bilhões. O aviso de Mantega foi dado no mesmo dia em que seu subalterno, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, comemorou os resultados das contas do governo (confira reportagem ao lado).
A alternativa oferecida para resolver o problema é a concessão de um abono de 6,14% sobre o valor das aposentadorias e pensões acima de um salário mínimo. Na prática, esse grupo já recebe o valor corrigido desde janeiro (confira as opções no quadro ao lado). Até ontem, Lula resistia a optar pelo abono – que não é incorporado ao benefício – e mandou os técnicos fazerem novos cálculos.
– A pressão está grande, mas ele ainda não bateu o martelo. Não quer vetar o reajuste e acha que ainda pode encontrar uma solução – disse um auxiliar do presidente.
O presidente da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap), Warley Gonçalles, assegurou que a categoria vai seguir mobilizada pela manutenção dos 7,72%:
– Se o Lula vetar, vamos fazer uma grande manifestação na Câmara e no Senado para que o veto seja derrubado.
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que comanda a Força Sindical, disse que o veto sobre o fim do fator previdenciário seria aceito, mas não o do reajuste.
– Um abono é muito pouco, tão pequeno que parece até uma esmola para os aposentados – comentou.
Em conversas reservadas, Lula não escondeu a contrariedade com o Congresso. Disse a ministros e parlamentares de partidos aliados que o Legislativo deixou um “abacaxi” para ele descascar.