O mês de agosto, a exemplo dos últimos meses, foi marcado pela irregularidade na distribuição de chuvas no sul do Brasil. A avaliação é do meteorologista Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Com exceção do Rio Grande do Sul, onde as chuvas ficaram na média para a época do ano, os demais estados registraram precipitações abaixo da média, com a concentração das chuvas ocorrendo no inicio do mês. “A maior parte do estado do Paraná já apresenta deficiência hídrica no solo. Porém, a diminuição das chuvas tem favorecido a colheita do trigo e milho safrinha nas regiões norte e oeste do estado. Na região centro-oeste, maior parte da região sudeste e nas áreas produtoras de grãos da região nordeste, onde a estação seca começou mais cedo este ano, estão sendo marcadas pela baixa umidade relativa do ar, o que favorece as queimadas nestas regiões”, diz.
No sul do Brasil, as temperaturas apresentaram uma grande amplitude térmica entre o início e final de agosto. No início do mês, a entrada de uma forte massa de ar frio de origem polar causou um acentuado declínio das temperaturas, com ocorrência de queda de neve no Planalto Sul de Santa Catarina e Serra Gaúcha, e registro de temperaturas mínimas negativas do sul do Paraná ao Rio Grande do Sul, com formação de geadas. Contudo, observa Lazinski, no final de agosto, observamos temperaturas muito acima da média para a época do ano, principalmente no Paraná e Santa Catarina, onde a umidade relativa do ar nestes estados, também encontra-se muito baixa nas horas mais quentes do dia. Nas regiões sudeste, centro-oeste e na maior parte da região nordeste, a predominância da massa de ar quente e seca do interior do Brasil manteve as temperaturas acima da média nestas regiões.
As anomalias negativas das temperaturas superficiais das águas do Oceano Pacífico Equatorial, que estão associadas ao desenvolvimento fenômeno climático “La Niña” naquela região, aumentaram em área e intensidade, comparado ao ultimo mês. Com isto, pode se observar uma intensificação do “La Niña” (Figura 1).
Segundo o meteorologista, os modelos de previsão climática de longo prazo continuam mantendo a tendência de anomalias negativas das temperaturas superficiais das águas do Oceano Pacífico Equatorial (Figura 2). “O clima continua sendo influenciado pelo fenômeno climático “La Niña” nos próximos meses, fenômeno este, que deve influenciar nosso clima, durante as safras de inverno e verão”. O prognóstico é de precipitações abaixo da média para os próximos meses, com uma distribuição mais irregular, intercalando períodos de muita chuva, com períodos maiores de pouca ou nenhuma precipitação, com possibilidade de períodos de estiagem mais prolongados, mais para o final do ano, mas que não devem comprometer o desenvolvimento das lavouras de inverno, e o início da safra de verão no sul do Brasil, sul da região centro-oeste e parte da região sudeste.
Lazinski ressalta que na maior parte da região centro-oeste e áreas produtoras de grãos do nordeste, a antecipação do período seco vem aumentando o déficit hídrico. O período chuvoso pode atrasar um pouco este ano, mas não deve comprometer o desenvolvimento das lavouras de verão, nestas regiões.
Para as temperaturas, continuam os prognósticos de grandes variações, intercalando períodos mais quentes, com entradas de massas de ar frio de forte intensidade, que devem provocar mudanças bruscas nas temperaturas, com quedas acentuadas, no centro-sul do Brasil. “Os extremos devem se acentuar. Possibilidade de frio tardio, no sul do Brasil”, alerta.
Com base no prognóstico da influência da fenômeno "La niña" nesta safra, mantém-se o alerta para riscos de veranicos e possibilidade de estiagens, especialmente para as regiões oeste e sudoeste do Paraná, e nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “Especificamente para o Paraná poderemos ter chuvas suficientes para a implantação das culturas de verão, com riscos de diminuição das chuvas e aumento das irregularidades nas precipitações mais para o final do ano (novembro e dezembro), que coincide com o início de período reprodutivo das culturas”, observa o Coordenador da Cadeia Produtiva de Grãos da Emater do Paraná, Nelson Harger.
Harger adverte que havendo menor disponibilidade de água no solo no plantio, o tratamento de sementes com fungicida é uma tecnologia de produção importante em condições de germinação lenta e exposição das sementes aos patógenos, permitindo o melhor estabelecimento da população de plantas. “Ainda como estratégia na redução dos impactos do clima na agricultura, podemos alternar épocas de plantio com ciclos de cultivares de forma a se evitar a colocar todos os ovos na mesma cesta. Com relação às doenças, devemos ter nesta safra uma menor pressão dos patógenos, e em especial da "ferrugem da soja", permitindo prever uma redução no número de aplicações de fungicidas em relação à safra passada, e consequentemente a redução nos custos de produção”.