17 dezembro 2010

Eu passei a noite chamando por eles, conta sobrevivente de tragédia

Veículo ficou submerso no arroio Banhado 
Grande
Durante a madrugada de quarta-feira, dia 15, Vera Lucia Barbosa Ferraz, 49 anos, passou a noite respirando por um espaço menor que um palmo.  Única sobrevivente do acidente que causou a morte de sua filha Aniele Ferraz Buss, 15 anos, da sua irmã Sandra Maria Pereira, 43 anos, do cunhado Aluísio Amaral Carvalho, 39 anos, da sobrinha Isabela Pereira Carvalho, 11 anos e da vizinha Michelle Rodrigues dos Santos, 14 anos, Vera ficou por mais de quatro horas presa dentro do Fiat Prêmio junto aos corpos dos seus parentes, em Cristal. Ainda em choque, ela conversou com Zero Hora no Pronto Socorro de Pelotas onde está internada devido a uma pneumonia.
Zero Hora - Como tudo aconteceu?
Vera Lucia Barbosa Ferraz - A Sandra estava sentada na frente com o Aluísio, e eu estava atrás com as meninas. A Isabela estava no colo da minha filha. Ela não sentou na frente porque a minha irmã levava o bolo no colo. A Sandra e o Aluísio estavam discutindo quando de repente o carro caiu na ponte.
ZH - Como foi a queda?
Vera - Eu me segurei no banco e gritei para a Aniele se segurar também. Só me lembro de ter ouvido o grito da Isabela e ter ficado tonta.
ZH - A senhora ouviu alguém pedindo ajuda?
Vera - Não. Após o acidente, só se ouvia o silêncio. Eu passei a noite chamando por eles e ninguém respondia.
ZH - Tentou sair do carro?
Vera - Várias vezes. Eu fiquei respirando por um espaço menor que isso (indica ela um palmo), com o chão do carro na minha cara e sentindo a água subir durante a noite. Eu pedia a Deus que não queria morrer afogada. Mergulhei para tentar abrir as portas, mas não conseguia. Meu peito doía toda que vez eu fazia isso.
ZH - Só lhe resgataram pela manhã, ninguém passou pelo local antes?
Vera - Uma moto. Eu ouvi o barulho dela e comecei a bater na lataria, mas estava escuro demais, não iam me ouvir. Quando já estava claro o pessoal do ônibus viu o carro caído e me socorreram. Eu já não tinha mais forças e a água já estava preenchendo o carro. Só ouvi alguém dizer "Tem gente no rio".
ZH - O que passava na sua cabeça durante essas horas dentro do carro?
Vera - Por que só eu sobrevivi?