Localidade em Santo Cristo recomeça vida após tragédia |
Na tarde de domingo, Leandro Bocorni enfrentou a maior provação dos seus 32 anos: sepultou os pais, dois tios, uma tia, mais dois parentes do futuro sogro no cemitério de Linha Salto, encravado entre lavouras de milho e soja. Segunda-feira, aturdido com as perdas, afligia-se pelos dois sobrinhos e por uma cunhada hospitalizados. Ainda teve de lamentar pela 27ª vítima da tragédia rodoviária de Santa Catarina, o vizinho Charles Kraemmer, que morreu durante a madrugada, aos 31 anos.
Leandro não é o único a padecer de um luto múltiplo. O desastre na BR-282, no sábado, arrancou pedaços de cada uma das 80 famílias de Linha Salto, em Santo Cristo. Das vítimas da equipe de bolão que viajava no ônibus atingido por um caminhão, 20 eram da comunidade. Todos tinham laços de parentesco ou amizade.
Depois de enterrar seus mortos no domingo, os moradores de Linha Salto passaram a se agoniar com os sobreviventes. Na madrugada de ontem, Charles Kraemmer não resistiu a uma cirurgia, no Hospital de Santa Rosa. Deixou a mulher, Nívea (também sobrevivente), e a filha pequena.
A despedida a Charles, realizada na igrejinha de Linha Salto, foi o prolongamento da comoção do velório coletivo de domingo. Colegas dele na multinacional AGCO compareceram com seus uniformes. Ele trabalhava na fabricação de colheitadeiras.
A partir de agora, os que ficaram terão de reconstruir suas vidas e os escombros de Linha Salto.