
Os dados foram obtidos por meio de diferentes métodos de pesquisa. Entrevistas, participação em eventos mundiais para coleta de dados com engarrafadores e varejistas fizeram parte do trabalho. Contudo, a parte mais sensível da publicação contemplou pesquisa junto aos associados da CitrusBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos. Dados considerados estratégicos de cada empresa foram enviados e compilados sob sigilo. Os números presentes no estudo são médias das quatro empresas.
NOVIDADES
A “Análise de uma década da cadeia da laranja” traz informações importantes. “É difícil levantar o que é mais relevante nesse novo estudo, mas acredito que a análise das margens operacionais obtidas com a compra de laranja de fornecedores, ante às margens obtidas pelas indústrias com os seus pomares próprios, é um dos pontos altos do trabalho”, observa Fava Neves. “O que sustentou a margem dessas indústrias nos últimos anos, sem dúvida, foram os pomares próprios, o que justifica os elevados investimentos feitos na produção agrícola”.
Na década analisada foram adquiridas 1,8 bilhão de caixas de laranjas oriundas de fornecedores de fruta. O valor corresponde a 65% de toda laranja processada na década analisada. O estudo mostra uma variação de margem oscilando entre um resultado operacional positivo de US$ 1,61 por caixa de laranja adquirida na safra 2006/2007, a um resultado operacional negativo de US$ 1,62 na safra 2009. No total, na década analisada, por incrível que possa parecer, a compra de frutas de fornecedores não trouxe lucro à indústria, considerando as médias de preços pagos. Os pomares próprios das indústrias corresponderam a aproximadamente 35% do abastecimento do total de frutas processadas na década, chegando próximos a 100 milhões de caixas. Nesse cenário, a laranja própria da indústria, produzida a custos mais baixos em relação à fruta adquirida de seus fornecedores, propiciou na década analisada uma margem operacional média de U$ 1,17 por caixa de 40,8 Kg, o equivalente a US$ 265 por tonelada de FCOj;
Fava Neves explica, porém, que há muito trabalho a ser feito. “A produtividade será a palavra de ordem para a citricultura do século XXI e será preciso criar ferramentas para trazer os produtores que estão em faixas menos produtivas para faixas mais confortáveis e com controle rigoroso de custos”, diz.
Outros pontos, igualmente sensíveis são analisados. Entre eles o deslocamento de preços existente entre o que reportam alguns relatórios internacionais e os preços praticados e auditados no mercado. O Food News, uma das principais publicações do mercado mundial de bebidas, é alvo de ampla análise. Entre o que reporta a publicação e o que as empresas efetivamente negociam, existe uma diferença de, aproximadamente, US$ 1 bilhão que não chegaram à cadeia citrícola brasileira. Nesse sentido, o estudo também mostra como está cada vez mais forte a transferência de renda das indústrias e produtores de fruta brasileiros para engarrafadores e varejistas na Europa. “O brasileiro está financiando o suco barato comprado na gôndola pelo consumidor europeu”, diz.
OUTROS DESTAQUES DO ESTUDO:
Oscilação de preços pagos pela fruta:
- De um ano para outro, a diferença de produção na oferta de fruta pode chegar a 40%, graças às condições climáticas antes e depois da florada, intempéries como secas prolongadas ou geadas.
- Enquanto as safras variam 40% de um ano para outro, nos últimos sete anos, as oscilações de demanda não ultrapassaram 3% entre os anos, causando impacto nos preços pagos pela fruta. A acentuada volatilidade dos preços do suco de laranja na Bolsa de Nova Iorque e no mercado físico europeu são devidas às expectativas de produção e estoques de passagem das safras subsequentes;
- Apesar de uma correlação direta, percebe-se também uma defasagem natural entre as cotações médias mensais da Bolsa de Nova Iorque e os preços médios recebidos pelas indústrias no mercado físico europeu, principal destino das exportações brasileiras. Essa defasagem advém do fato que os preços dos contratos na Europa e Ásia são travados com envasadores para períodos variáveis entre 6 meses a 24 meses ao contrário do mercado de futuros que têm baixa liquidez em períodos superiores a 6 meses futuros.
DESCOLAMENTO DE PREÇOS
- Durante o período analisado houve um descolamento de U$ 1,6 bilhão entre o preço médio real de venda do suco FCOJ por parte das indústrias processadoras aos seus clientes envasadores na Europa e aquele reportado semanalmente pelo Foodnews, importante periódico de informações do setor e posteriormente compilado pela Markestrat;
AUMENTO DE CUSTOS
- O custo saltou de U$ 1,31 para U$ 3,96 por caixa de 40,8 Kg. Nesses cálculos estão inclusos os custos de colheita e transporte dos frutos, porém, está excluído o cálculo de depreciação e amortização do capital investido.
- Devido ao fato de 95% da produção ser destinada ao mercado internacional, a valorização cambial drenou fortemente a renda do setor, principalmente do produtor de laranja que mesmo com recordes históricos de preços como verificados na safra 2007/08 de U$ 5,42 e safra 2008/09 de U$ 5,28, por caixa de laranja de 40,8 kg, não ficaram satisfeitos com os resultados obtidos na atividade, pelo enfraquecimento do dólar. Com o dólar a R$ 2,00 ou a R$ 2,50 a remuneração dos citricultores em reais teria sido substancialmente maior.
- De todos os problemas enfrentados pelo setor, um dos mais agudos está na inflação em dólar que impactou os custos de produção de FCOJ. Esses custos, que incluem a entrega do produto nos terminais portuários dos Estados Unidos e Europa do suco de laranja proveniente dos pomares próprios da indústria sofreram um acréscimo de 244%, em uma escala que saiu de US$ 458 por tonelada em 2002/03 e chegou a US$ 1.575 por tonelada em 2009/10. Isso corresponde a um aumento de custos de US$ 1.117 por tonelada.
*Marcos Fava Neves é Professor Titular de Planejamento na FEA/USP em Ribeirão Preto e Coordenador Científico do Markestrat.