06 janeiro 2012

Estiagem causa perdas de até 25% em culturas de verão no RS

Selbach é um dos 54 municípios que decretaram situação de 
emergência Crédito: Florêncio Urbano dos Santos Filho / Especial CP
Em balanço divulgado pela Emater nesta quinta-feira, a estimativa inicial para a safra dos grãos de verão – milho, feijão e soja – foi muito reduzida em função da estiagem que afeta o Rio Grande do Sul. No fim da tarde, a Defesa Civil informou que o número de municípios em emergência chegou a 67. Mais de 300 mil pessoas são afetadas pelo problema.
O maior impacto, até o momento, se dá sobre as lavouras de milho. Dados coletados na segunda quinzena de dezembro indicam que o milho já registra uma perda consolidada de 25,17% em relação à previsão inicial. Com isso, a produção do grão não deverá ultrapassar 3.969.297 toneladas em 2011, número 31,29% menor que o do ano anterior, quando chegou a 5.776.512 t.
O feijão da primeira safra já apresenta queda de 11,43% em relação à estimativa inicial, de 81.639 t, e de 22,27% comparando-se com a safra 2011. Caso as condições climáticas adversas persistam, a tendência é de que estes percentuais aumentem. Os primeiros dados coletados neste início de janeiro, que deverão ser divulgados na próxima semana, começam a confirmar essas tendências.
De acord com o diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, o milho e o feijão foram os mais atingidos pela estiagem até o momento, já que o percentual de lavouras em fases de floração e enchimento de grãos foi expressivo durante o mês de dezembro, o que “afetou seriamente a produtividade dessas culturas em algumas regiões”. O maior impacto é nas regiões de Ijuí (com expectativa de redução no rendimento médio no milho de 37%), Passo Fundo (-35%), Lajeado (-30%), Santa Rosa (-25%) e Erechim (-24%).
Caso o cenário de estiagem persista, os danos devem se estender de forma mais grave também às lavouras de soja. Com base nos dados coletados até o final de dezembro, a Emater estima uma redução de 4,09% na expectativa inicial para a safra 2012, que era de 10.300.335 t, e de -15,61% em relação à safra 2011.
O engenheiro agrônomo da Gerência de Planejamento da Emater/RS-Ascar, Gianfranco Bratta, ressalta que, caso o cenário de estiagem se mantenha, esta estimativa tende a piorar, visto que começa agora um período crítico para a soja. “Até o final deste mês cerca 40% das lavouras entrarão em floração, fase extremamente sensível à falta de umidade no solo”, avalia Bratta.
Áurea é o 55º município em emergência
O prefeito de Áurea, Gilson Martovicz, assinou decreto de situação de emergência, que foi enviado nesta quinta-feira à Defesa Civil. A argumentação baseia-se no fato de já haver em média uma quebra irrecuperável de 15% nas lavouras de soja e 50% nas lavouras de milho, 60% no feijão, 30% na produção de leite e 30% na erva-mate.
De acordo com o secretário de agricultura, Edson Rustik, o montante das perdas chega a R$ 6.024 milhões. Ele disse que o transporte de água para propriedades do interior iniciado timidamente na semana passada ganhou intensidade nos últimos dias. Um caminhão tanque com 4 mil litros de água segue diariamente para as comunidades de Campinas e São Sebastião Baicorá, garantindo a demanda dos animais.
Além de sofrer com a estiagem, São Sebastião Baicorá também teve perdas graves no último dia ano de 2011, por causa de uma precipitação intensa de granizo que provocou prejuízos em lavouras e hortifrutigranjeiros. Em fevereiro do ano passado, o município decretou situação de emergência por causa de enxurradas que danificaram especialmente lavouras e estradas vicinais. Naquele período o município sofreu prejuízos calculados em cerca de R$ 900 mil, conforme o secretário Rustik.
No dia 2 de janeiro, os 32 prefeitos da Associação dos Municípios do Alto Uruguai (Amau) reuniram-se em Erechim, quando ficou decidido que cada município avaliaria sua própria realidade a respeito de um possível decreto de situação de emergência. Na oportunidade, porém, a orientação foi no sentido de avaliarem com calma a situação antes da assinatura. Em Áurea, segundo as autoridades, a saída foi opção pelo decreto em razão das perdas já comprovadas e das "previsões nada animadoras" para os próximos dias.