19 junho 2012

Bom Princípio: Comunhão de adolescente com autismo causa polêmica

Sete anos atrás, Silvani havia buscado informação com o
então pároco da cidade, que afirmou que o filho poderia
participar da primeira comunhão
Foto: Miro de Souza / Agencia RBS
Uma polêmica está colocando em lados opostos a fé e a inclusão de um menino com deficiência em Bom Princípio, no Vale do Caí. A decisão do padre local de não dar a primeira eucaristia para um adolescente com autismo, no último domingo, revoltou os moradores, e tem causado controvérsia.

Cássio Maldaner, 13 anos, estava na fila para entrar na igreja e receber a primeira comunhão com outras 34 crianças. Nos bancos de madeira da Paróquia Nossa Senhora da Purificação, 90 convidados da família esperavam pelo momento sonhado pela mãe, a dona de casa Maria Silvani Maldaner, 41 anos. Minutos antes da cerimonia começar, o padre Pedro José Ritter pediu que Cássio fosse retirado da fila. Ele não participaria da celebração.

Sete anos atrás, Silvani havia buscado informação com o então pároco da cidade, que afirmou que o filho poderia participar da primeira comunhão. Depois esperar o melhor momento, há dois meses ela havia procurado o padre Ritter e explicado a situação. De acordo com religioso, a igreja estipula que, em casos como o de Cássio, não há necessidade de que o fiel passe pelo rito da eucaristia.

— Como a mãe queria muito, e nós não temos catequistas preparadas, pedi a ela que ensinasse ao menino o sentido da eucaristia. Se ele entendesse, ainda que do jeito dele, o que estava acontecendo, e se aceitasse a hóstia, ele poderia participar — afirma.

Mãe e filho treinaram durante um mês e voltaram à igreja para um ensaio. Na ocasião, Cássio se negou a receber a hóstia. Silvani continuou ensinando o menino, para que ele pudesse participar da celebração.

— Ficamos de fazer um novo teste, que não aconteceu. Na última sexta-feira ocorreu o ensaio, e eu esperava falar com o padre, mas ele não participou. Como não houve mais nenhuma manifestação, achei que estava tudo certo — conta a mãe.

O religioso, no entanto, afirma que em nenhum momento Cássio aceitou a hóstia. Sem que isso acontecesse, Ritter diz que a orientação à mãe é que se esperasse outro momento para que o adolescente participasse da eucaristia.

— Não houve nenhum tipo de preconceito. A minha decisão apenas foi por esperar por um outro momento, em que ele aceitasse e entendesse o que estava acontecendo — afirma o padre.

Comunidade se mobiliza

A imagem dos pais do adolescente chorando durante a missa comoveu a comunidade. A festa programada foi realizada, mas em clima de tristeza. Moradores de Bom Princípio estão se mobilizando nas redes sociais, contrários a atitude do padre.

Para a família, houve preconceito por parte do religioso. O pai, o agricultor Letus Maldaner, 56 anos, afirma que espera que o filho participe da eucaristia, mas com outro padre.

— Depois que ele tirou o Cássio da fila eu ainda pedi que ele ao menos desse uma bênção lá na frente, mas ele se negou. Essa é primeira vez que o meu filho foi discriminado, e isso aconteceu justamente na igreja — afirma Maldaner.

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