23 maio 2013

Homem é acusado de incendiar carro e matar mulher para receber seguro

Carro onde estava Maria de Fátima Andrade Silva, 45 anos,
caiu em barranco e pegou fogo
(Foto: Divulgação / Divulgação)
A história contada pelo corretor de arroz João Luiz Pereira da Silva, 51 anos, parecia verossímil. Após uma pane no Honda Civic da família, ele estaciona o carro no acostamento da ERS-486 (Rota do Sol), em Itati, no Litoral Norte. Silva sai do veículo, abre o capô e começa a analisar o motor. A mulher dele, a dona de casa Maria de Fátima Andrade Silva, 45 anos, orientada pelo marido, assume o volante. Por descuido, ela acelera o carro, que desce uma ribanceira e pega fogo. Maria de Fátima, presa ao cinto de segurança, morre carbonizada.

A morte entraria para as estatísticas de acidente de trânsito não fosse um vídeo, postado na internet, levar a Polícia Civil a investigar o caso, cujo desfecho foi surpreendente. Conforme inquérito policial e a denúncia do Ministério Público, Silva teria incendiado o veículo e matado a mulher para receber R$ 824,1 mil do seguro.

O episódio ocorreu por volta das 10h do dia 7 de dezembro de 2011. Pela versão de Silva, ele e a mulher viajavam de Osório, onde moravam, para Caxias do Sol, quando o veículo, dirigido por ele, teve uma pane próximo ao km 8 da Rota do Sol. O corretor manobrou o carro em sentido contrário, para aproveitar o declive da pista, caso fosse preciso empurrar o Civic, e o estacionou no acostamento.

Segundo ele, saía fumaça do motor. Silva desceu do veículo, abriu o capô e mandou Maria de Fátima passar para o banco do motorista e acionar a ignição. Queria descobrir a falha. Mas a mulher teria acelerado e perdido controle do carro. Desgovernado, o Civic desceu uma ribanceira entre árvores e pegou fogo.

Conforme o corretor, diante das chamas, foi impossível salvar a mulher. Cerca de 20 minutos depois, um viajante de Santa Catarina parou no local do acidente e registrou com um celular imagens de labaredas no interior do veículo e o lamento de Silva deitado à beira da estrada.

— Minha esposa faleceu. Tá lá dentro. Não consegui salvar ela. Companheira de 27 anos. A gente estava com a vida boa — contou Silva, chorando.

O corretor foi levado para atendimento médico em Torres, e o caso registrado na Delegacia da Polícia Civil de Terra de Areia. Mas a postagem do vídeo no YouTube, gerou comentários inusitados. O teor das mensagens era de que o acidente não passava de uma farsa armada por Silva.

O delegado Adriano Koehler Pinto convocou familiares e amigos do casal. Os dois filhos disseram que desconheciam a viagem. E surgiram relatos de que Silva e Maria de Fátima viviam uma crise conjugal. Ela estaria disposta a se separar e teria medo de sair de casa sozinha com o marido.

Mecânicos de automóveis garantiram que a possibilidade de o carro incendiar naquelas circunstâncias era "quase zero". As suspeitas contra o corretor aumentaram com o resultado do laudo do Instituto-geral de Perícias. O exame revelou que o foco principal de incêndio tinha sido no compartimento de passageiros e o que Civic desceu o barranco em linha reta.

Por fim, a polícia descobriu que Maria de Fátima tinha apólices de seguro de vida, no valor de R$ 824,1 mil, cujo beneficiário seria Silva.

— Nunca tinha visto nada igual. Um simples acidente de trânsito delinear para um assassinato — lamentou o delegado, com 14 anos de Polícia Civil.

Segundo o delegado, a morte de Maria de Fátima também quitaria financiamentos de uma Ka, de um caminhão e de um reboque.

Confira o vídeo gravado no dia do suposto acidente:


Em depoimento, Silva sustentou que a mulher foi vítima de acidente. Ele não recebeu o dinheiro das seguradoras e foi indiciado e denunciado à Justiça por homicídio qualificado. O promotor Márcio Roberto Silva de Carvalho classificou o relato do corretor de "versão surrealista" e solicitou a prisão preventiva de Silva. O pedido foi negado e o corretor responde ao caso em liberdade. A instrução do processo, com colete de depoimento de testemunhas, começa em 25 de junho, na Vara Judicial de Terra de Areia.