08 maio 2013

Suspeitos orientavam a separar o leite 'bom' para a família, diz MP

Promotor Mauro Rockembach mostra régua utilizada para
medir mistura de ureia no leite adulterado no RS
(Foto: Marjuliê Martini/Ministério Público)
Escutas telefônicas ajudaram o Ministério Público a desvendar o esquema de adulteração de leite investigado pela Operação Leite Compensado no Rio Grande do Sul. Em ação nesta quarta-feira (8), oito pessoas foram presas por suspeita de envolvimento na fraude, que adicionava água e ureia ao produ
to para aumentar o volume.

Além das oito prisões, da interdição de uma empresa e de três postos de refrigeração no estado, a operação também apreendeu armas, 60 sacos de ureia e cerca de R$ 100 mil em dinheiro. Foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e nove de prisão. Das oito pessoas presas, duas foram liberadas após o depoimento e seis seguem detidas. Um suspeito ainda está sendo procurado e é considerado foragido.

Segundo o promotor Mauro Rockembach, o grupo criminoso foi monitorado por escutas telefônicas. “Todos os passos, as negociações e os ajustes foram captados” disse. Ainda segundo o promotor, uma das ligações interceptadas revela que um dos investigados orienta seu motorista a separar “o leite da 'guachaiada'” antes de fazer a mistura, se referindo aos filhos. “Ou seja, ele pedia para deixar para ele o leite bom, antes de mandar para o consumo da população o produto com a substância cancerígena”, destacou.

De acordo com o MP, 10 caminhões foram apreendidos por determinação em Ibirubá, Horizontina e Guaporé. Também foi apreendida uma régua utilizada para medir a mistura e produtos como soda cáustica, corantes, coagulantes e emulsão para dar consistência. O total de leite adulterado, em um ano, chega a 100 milhões de litros. Segundo o MP, cerca de 100 toneladas de ureia foram utilizadas neste período.

Rockembach também salientou a gravidade do crime. “Ouso dizer que esse crime é mais grave que o tráfico de drogas, pois o traficante vende para quem quer comprar o tóxico. Na adulteração do leite, o produto é entregue ao consumidor, que não tem nenhum conhecimento prévio sobre a situação desse produto”, sustentou o promotor.

As ordens de prisão foram cumpridas ao mesmo tempo em três regiões do Rio Grande do Sul: Horizontina, no Noroeste,  Ibirubá, no Norte, e  Guaporé, na Serra. Cinco pessoas foram encaminhadas para o Presídio Estadual de Espumoso. Elas foram presas preventivamente nas cidades de Ibirubá, Selbach e Tapera. Uma pessoa, detida em Guaporé, foi levada ao Presídio Estadual da cidade.

caminhões foram apreendidos no RS, segundo MP
(Foto: Marjuliê Martini/Ministério Público)
A investigação da Operação Leite Compensado teve início em abril de 2012, quando o Ministério da
Agricultura identificou presença de formol em amostra de leite em um dos postos de refrigeração no estado. Três estabelecimentos deste tipo foram interditados nesta quarta-feira (8), além de uma empresa de laticínios em Estrela, no Vale do Taquari.

Após a descoberta da fraude, o Ministério da Agricultura determinou o recolhimento de lotes de quatro marcas dos supermercados: Latvida, Italac, Líder e Mumu. A orientação do Ministério Público é que os consumidores deixem de consumir os lotes específicos de fabricação (clique para conferir a lista). No fim da tarde, o Ministério da Justiça informou que notificou as empresas.

A Operação Leite Compensado foi realizada em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e contou com o apoio da Receita Estadual, Brigada Militar e Polícia Civil, em três regiões do Rio Grande do Sul.