17 janeiro 2011

Uma conversa com um semeador da cultura gaúcha

O casal é missioneiro de Santo Ângelo
Faltou tempo para colocar todos os assuntos em dia. Mas o importante foi falado. Com um abraço, um aperto de mão e um chimarrão de erva boa, no final da manhã de sábado, fomos recebidos pelo casal João Ermelino de Mello e Carmen Beatriz Kraemer em sua casa, em Campo Grande, a capital do Mato Grosso do Sul.
O convite para a visita foi deixado por ele no site do Brasil de Bombachas, uma reportagem que conta a história dos gaúchos que povoaram as terras ao norte do Rio Uruguai. E que, 16 anos depois da sua publicação, está percorrendo os caminhos abertos pelos pioneiros para conversar com os seus filhos.
Por pouco, o encontro não acontece. Mello enviou o telefone para contato do seu escritório, que fica vazio no sábado. Eu não sabia. Então fiz várias ligações na esperança e ninguém atendia. Pensei que estivesse viajando. Ele também não havia respondido o e-mail que enviei confirmando o encontro com o número do meu celular. Chegamos nas proximidades de Campo Grande e o motorista Everton de Jesus perguntou:
— Daí meu? Vamos embora ou ficamos esperando?
Sem muita vontade, eu disse:

— Toca, vamos embora.
O fotógrafo Mauro Vieira acrescentou ao meu comentário:
— É uma pena. O encontro daria uma bela foto.
Segundos depois, tocou o celular. Era o Mello,  que havia aberto o e-mail naquele momento. Perguntou onde nós estávamos. Respondi que estávamos passando por Campo Grande e reclamei de que ninguém havia atendido o telefone. Ele responeu:
— Tchê, não é que na correria acabei colocando apenas o telefone do escritório, onde não há ninguém hoje. Me desculpa.
Respondi:
— Só se tiver um mate de erva boa.
Mello é um semeador de CTGs nas terras desbravadas pelos gaúchos. Missioneiro, de Santo Ângelo, em 1978, ele convenceu Carmen a soltar o conforto de um casa bem estrutura pela aventura de desbravar o Mato Grosso do Sul. Foram tempos difíceis.
Hoje, o casal tem três filhas. E gastam uma boa parte do tempo investindo na preservação dos laços culturais dos desbravadores e seus descendentes com o Rio Grande do Sul. As observações feitas vem revestidas do conhecimento da realidade local atualizada por ser ele um pessoa que circula todas as semanas pela região no exercício do seu ofício. O conteúdo completo da conversa fará parte de uma reportagem.
Mas a maior parte da conversa não foi uma entrevista. Foi como se estivéssemos ao redor do fogo de chão colocando os assuntos em dia. O casal é leitor da zerohora.com.
Deixando para trás um arroz carreteiro, com cheiro maravilhoso, por já termos marcado uma entrevista em São Gabriel do Oeste, a uns 150 quilômetros dali, nós seguimos a viagem rumo ao norte do Brasil. Um buenas e até mais, dito a maneira do gaúcho, foi a despedida.