14 setembro 2011

Alimentação Escolar: Santa Rosa (RS) faz a lição de casa

Foto: Lisandra Steffen
Descendo a estradinha rural, passando por algumas lombadas, ao longe se veem as hortas, as estufas, os tanques de açude e os canteiros de cultivo hidropônico. Mais adiante, uma casa com grande porão e gramado. No sítio de sete hectares mora a família da agricultora Cornélia Nikel Bortoli. Ela e outros 78 associados da Cooperativa Agropecuária e de Economia Solidária (Coopersol) são responsáveis pela maior parte dos alimentos destinados à merenda servida pela rede de ensino do Município de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul.
Hoje, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) repassa cerca de R$ 1,2 milhão por ano para a merenda escolar de Santa Rosa. Deste montante, 57% são utilizados para a compra de produtos da agricultura familiar, o que assegura um total de R$ 726 mil/ano para os 79 cooperados da Coopersol.
Filha de agricultores, Cornélia, ao lado do marido,dos sogros e de quatro funcionários, é responsável pela produção semanal de aproximadamente 2,5 mil quilos de produtos, como, tempero verde, alface, tomate, cenoura, beterraba, pepino, vagem, rabanete, brócolis e rúcula. Os produtos destinados à merenda escolar são entregues a cada 15 dias. O restante é comercializado na feira municipal e mercados do município.
A produção dos 79 cooperados da Coopersol é destinada a 52 centros de ensino e reforça a merenda escolar de 18 mil alunos. “É muita satisfação saber que o teu alimento, que é saudável e produzido com tanto carinho, está na mesa das crianças”, revela Cornélia. “Com esta nova renda, conseguimos investir na propriedade, comprar computadores e até um carro para transportar os produtos”, reforça o agricultor familiar Carlos Roberto Jek, que fornece massa fresca e biscoitos para a alimentação escolar há dois anos.
A Lei da Alimentação Escolar, aprovada em 2009, determina que no mínimo 30% dos recursos do FNDE sejam destinados à compra de produtos da agricultura familiar. No mesmo ano em que a lei entrou em vigor, a Prefeitura de Santa Rosa criou uma equipe formada por servidores das Secretarias de Educação e Agropecuária e técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) para organizar os agricultores familiares do município. “A agricultura familiar no nosso município é um das principais fontes de desenvolvimento, e o tema da alimentação escolar veio como uma garantia da comercialização”, explica o prefeito Orlando Desconsi.
No mesmo ano, Cornélia e o marido acessaram o Pronaf Mais Alimentos para financiar a primeira estufa aonde produzem hortigranjeiros. “Trabalhamos muito tempo no vermelho. A gente estava para desistir. Então surgiu a oportunidade de acessar o Pronaf, a juros baixos e longo prazo para pagamento”, lembra Cornélia. Desde então, o casal acessa anualmente o Pronaf para custear a produção. “A produção aumentou bastante. Muito foi construído e adquirido por causa dessa renda”, afirma a produtora.
Os investimentos na melhoria da produção proporcionaram mais qualidade a alimentação dos alunos da rede municipal. “Com produtos que chegam às escolas ainda fresquinhos, conseguimos contemplar os três grupos principais para uma boa nutrição, que são os carboidratos, os sais minerais e as proteínas”, explica a nutricionista Lori Passinato, que trabalha há 19 anos na prefeitura e fez parte da equipe que participou do processo de organização dos produtores.
“Com a variedade de frutas, legumes e verduras, fica mais fácil buscar alternativas para agradar o paladar dos alunos”, afirma a merendeira Adelaide Moura, funcionária da prefeitura há 11 anos. Além de uma alimentação saudável, a variedade de produtos da agricultura familiar de Santa Rosa assegura o cumprimento de outras orientações da Lei da Alimentação Escolar: respeito às tradições e aos hábitos alimentares locais.