14 novembro 2013

'Ele recebeu avisos', diz amigo de Jango sobre suposto envenenamento

Elmar mostra documento de filiação no PTB de São Borja
(Foto: Márcio Luiz/G1)
A exumação de João Goulart nesta quarta-feira (13) não chegou a mobilizar a população de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, mas atraiu para a porta do cemitério Jardim da Paz velhos conhecidos da família do ex-presidente. O aposentado Elmar Pereira, 66 anos, acompanha o procedimento desde as primeiras horas da manhã e não arreda o pé do local mesmo depois de 12 horas de trabalhos.

O aposentado conta que o pai, Argemiro dos Santos Pereira, fundou junto com Jango o PTB de São Borja. Por conta disso, ele diz que conheceu o ex-presidente e frequentou muito a fazenda de Jango no município antes e depois dele assumir a presidência.

"A gente fica na expectativa de que a morte do Jango possa ser elucidada, pois até hoje essa situação não foi resolvida", diz Elmar, que acredita na tese de que o ex-presidente possa ter sido assassinado no exílio na Argentina, em 1976. "Ele recebeu vários avisos de que ia acontecer", diz.

Já o aposentado Artur Dornelles, 77 anos, passou no cemitério pela manhã. Ele diz que conheceu Jango aos sete anos de idade, quando o pai foi trabalhar na fazenda da família Goulart. Após ficar órfão, Artur conta que foi "adotado" por Jango e manteve uma relação próxima durante toda a vida do ex-presidente, mesmo quando ele estava no exílio.

"De mês em mês, eu levava documentos e dinheiro para ele em Montevidéu, Tacuarembó e Maldonado (no Uruguai) e na Argentina", conta Artur, que também acredita que Jango possa ter sido envenenado no exílio. "O médico dele queria fazer autópsia, mas não deixaram", lembra.

Ainda pela manhã, um grupo de cerca de cinco pessoas fez um protesto tímido nas proximidades do cemitério, antes do cordão de isolamento feito pela Brigada Militar. Eles carregavam cartazes com frases como "Jango: Verdade, Memória e Justiça" e "Ditadura Nunca Mais", que foram fixadas na parede de uma obra em frente ao cemitério.

Morte ocorreu em exílio na Argentina
Artur diz ter levado dinheiro e documentos a Jango no
Uruguai e na Argentina (Foto: Márcio Luiz/G1)
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas um
a autópsia nunca foi realizada. Na última década, novas evidências reforçaram a hipótese de que o ex-presidente teria sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro.

A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando disse que espionava Jango e que teria participado de um complô para trocar os remédios do ex-presidente por uma substância mortal.

Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Tanto o governo federal quanto membros da família Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido assassinado.